Na sexta-feira, dia 1º de outubro, uma onça-troy (31,1 gramas) de ouro em Nova York fechou a US$ 1.316. A alta em um ano foi de 32%. O ouro está subindo tanto porque os investidores desconfiam da vontade de Ben Bernanke, presidente do banco central americano, de preservar a saúde do dólar, pois ele sabe que deixar uma moeda desvalorizar é maneira mais fácil de aquecer uma economia. Os produtos ficam mais baratos em relação aos de outros países, o que permite exportar o  desemprego. Tem o problema de causar inflação, mas isso 1) demora para acontecer (dá tempo de ganhar a eleição), e 2) é menos intenso quando a economia vai mal. Quando os empregos rareiam, os trabalhadores aceitam ganhar menos para continuar  empregados, algo que Bernanke sabe muito bem.

 

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Troque-se “ouro” por “real” e haverá uma ideia do tamanho do problema. Como disse o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci em maio de 2005, “o problema do dólar flutuante é que o danado flutua.” E tem flutuado muito nos últimos tempos. A apreciação do real em relação ao dólar foi de 14,7% em 2010.  

 

A economia está crescendo, os juros são maiores do que os internacionais e a capitalização da Petrobras trouxe bilhões de dólares ao mercado. O real está tão forte que fez até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, concordarem que é preciso agir para driblar Bernanke e impedir que ele exporte seu desemprego para cá. Há várias alternativas, nenhuma delas agradável.

 

Uma delas é o governo comprar dólares para elevar seu preço. O dólar funciona exatamente como o tomate na feira: quando há sobra o preço cai, quando há falta o preço sobe. 

 

A desvantagem é que o governo tem de pagar os dólares com reais. Será preciso emitir mais dinheiro, o que provoca inflação. Para controlar a inflação será preciso elevar os juros, o que vai atrair mais dólares… Tudo bem, vamos pensar em algo diferente.

 

Outra solução é não comprar os dólares diretamente, mas forçar sua alta por meio de operações no mercado futuro. O BC pode oferecer ao mercado contratos conhecidos como swaps cambiais. 

 

A vantagem desses instrumentos, conhecidos como derivativos, é que não é preciso desembolsar tantos reais para obter o mesmo efeito. A desvantagem é que o governo estará apostando pesadamente na alta do dólar. Se ele continuar caindo, o governo vai perder dinheiro. 

 

Só um lembrete: a última tentativa de usar esses instrumentos foi em 1999, quando a intenção era impedir uma alta do dólar. As apostas na queda da moeda americana foram pesadas e a brincadeira custou US$ 8 bilhões em dinheiro da Viúva. Jogo perigoso, passível de cartão.

 

A terceira alternativa é partir para o futebol força contra Bernanke, ou seja, tratar o dólar como outros produtos importados. Entrou? Paga imposto. O governo lançou uma alíquota de 2% do Imposto sobre Operações Financeira (IOF) sobre os investimentos internacionais em renda fixa e em ações em 2009, e acredita-se que esse percentual poderá voltar a subir nos próximos dias, pelo menos para conter a entrada de dólares durante algum tempo. A entrada dura não é exatamente esportiva e com certeza vai provocar reclamações da torcida, mas é a alternativa menos danosa para conter a goleada de dólares.