O primeiro semestre de 2018 marcou uma das mais abruptas reversões de expectativas dos últimos anos. Em janeiro, o primeiro boletim Focus, do Banco Central (BC), previa um crescimento de 2,7% e um dólar de R$ 3,40 em dezembro. Na edição mais recente, de 13 de julho, o prognóstico para o crescimento havia encolhido para 1,5% e as projeções para o câmbio subiram para R$ 3,70. Houve um complicador adicional. A mudança dos prognósticos não foi suave e gradual, mas marcada por solavancos e reviravoltas. Nesse cenário, os preços dos ativos financeiros pegaram muitos gestores de surpresa. Um levantamento realizado pela empresa de informações Economatica mostra que a volatilidade dos fundos multimercados, que investem em várias classes de ativos, disparou. A volatilidade média no primeiro semestre considerando-se uma amostra de fundos com mais de 5 mil cotistas foi de 4,3%, quase o dobro da registrada seis meses antes.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve: promessa de uma política monetária mais dura

Nesse cenário, poucos foram os fundos que conseguiram apresentar um bom desempenho aos seus cotistas. A rentabilidade dessas carteiras nos seis primeiros meses do ano foi de 2,72%. Para comparar, os juros medidos pelo CDI nesse período foram de 3,17%. “Na média, teria sido melhor para o investidor ter optado por uma aplicação de renda fixa de boa qualidade, especialmente se houvesse sido uma isenta de imposto”, diz William Eid Júnior, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas. Quem se destacou nesse período foram os gestores que conseguiram antecipar as movimentações de mercado. Foi o caso de dois fundos multimercados do Itaú, o Hedge Plus e o Long Short Plus, que tiveram retornos de dois dígitos (observe o quadro ao final da reportagem). “Obtivemos esse desempenho por contarmos com uma boa equipe de análise”, diz Marcello Siniscalchi, diretor da Itaú Asset Management.

Gestores de fundos multimercados tiveram de corrigir a sua estratégia devido à perspectiva de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos

Nos primeiros meses do ano, a conclusão dos analistas do banco foi de que havia um excesso de otimismo no mercado. A grande maioria dos gestores estava fazendo suas apostas em linha com essas expectativas. O movimento generalizado era de alongar posições, investir em ativos de risco e apostar em altas robustas das ações. “Porém, quando olhávamos os fundamentos no início do segundo trimestre, algo parecia estar errado”, diz Siniscalchi. Jerome Powell, novo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mostrava-se mais disposto que seus antecessores a elevar os juros nos Estados Unidos, o que provocaria uma mudança profunda nos fluxos de recursos. “O dinheiro sairia dos países emergentes, o Brasil entre eles.” Para se antecipar a esse movimento, a estratégia dos fundos mudou, passando a reduzir a ênfase no risco e a aumentar a aposta na alta dos juros. Os frutos começaram a ser colhidos em abril, quando as taxas futuras de juros brasileiras dispararam e chegaram a 11% ao ano.

Marcello Siniscalchi, diretor da Itaú Asset Management: “Quando olhávamos os fundamentos no início do segundo trimestre, algo parecia estar errado.”

Para os próximos meses, a equipe de Siniscalchi prevê um cenário adverso. “Os juros internacionais vão continuar subindo e isso trará uma dificuldade adicional para os países emergentes”, diz ele. A situação brasileira está relativamente ajustada, com inflação e juros sob controle. As únicas dúvidas, diz o gestor, são sobre o ajuste fiscal. Mesmo assim, o ambiente está adverso para quem busca retornos acima da média. “O mercado já embutiu essa piora das expectativas nos preços e é difícil achar oportunidades.” Para os interessados, a aplicação inicial do Hedge Plus é de R$ 50 mil, e o banco cobra 2% ao ano de taxa de administração. No caso do Long Short Plus, a aplicação mínima é de R$ 10 mil e a taxa é de 1,5% ao ano.

Outro dos fundos líderes em rentabilidade, o Kapitalo Kappa Advisory, um multimercado macro da gestora independente Kapitalo, obteve um bom retorno ao diversificar as aplicações para fora do Brasil. “Não antecipamos esses eventos”, diz João Carlos Pinho, sócio-fundador da Kapitalo. “Sempre tivemos uma boa exposição internacional, e dedicamos 40% do nosso patrimônio a ativos de oito países, incluindo Estados Unidos e Europa”, diz ele. Na carteira estão principalmente posições em taxas de juros e câmbio, e alguns índices de ações. Com isso, os fundos ganharam com a valorização do dólar, que chegou a rondar R$ 4 durante os dias mais tensos do segundo trimestre devido ao movimento de aversão ao risco que drenou recursos dos mercados emergentes. Pinho também diz prever mais volatilidade no segundo semestre, devido às incertezas do cenário eleitoral. O Kapitalo cobra 2,2% de taxa de administração e a aplicação inicial é de R$ 50 mil, mas o fundo encontra-se fechado para novas captações. Ao todo, a Kapitalo administra R$ 9,5 bilhões.