No ano passado, a indústria médica movimentou mais de US$ 7 trilhões no mundo. Desse total, US$ 3,3 trilhões vieram dos Estados Unidos. Esses números estão atraindo não apenas empresas que já estão mais do que acostumadas a lidar com negócios trilionários, mas que também já sabem como mudar a vida das pessoas. Nessa seara estão Amazon, Apple e Google. A varejista de Jeff Bezos quer ofertar medicamentos em suas prateleiras digitais. A fabricante do iPhone, comandada por Tim Cook, planeja transformar o smartphone em um prontuário médico digital. Com planos ainda mais ousados está o Google, que pretende antecipar o diagnóstico de doenças graves que matam milhões de pessoas todos os anos. “A inteligência artificial pode realmente ajudar a medicina a prever sintomas e doenças”, disse o CEO Sundar Pichai, durante um evento do Google, em maio. “Vamos dar a eles mais tempo para agir.”

Os passos nesse setor da companhia fundada por Larry Page e Sergey Brin são dados pela Verily. Criada em 2015, dentro da Alphabet, holding que controla o Google, a subsidiária coleta e analisa dados para melhorar a obtenção de diagnósticos e os tratamentos de doenças oculares, problemas cardíacos, Mal de Parkinson, diabetes e esclerose múltipla. No ano passado, a startup recebeu uma injeção de capital de US$ 800 milhões do fundo de investimentos Temasek Holdings. “Se você analisar mais de 100 mil dados por pacientes, poderá prever resultados”, afirmou Pichai. Em fevereiro, a Verily apresentou um algoritmo que usa inteligência artificial para indicar pessoas com propensão a desenvolver problemas cardíacos ou derrames cerebrais, com um nível de acerto de 70%. Isso foi possível graças a um exame de retina feito com 280 mil pacientes. O plano é que a ferramenta possa ser utilizada para exames mais rápidos e baratos no futuro.

A Apple e a Amazon, por sua vez, trabalham em duas frentes diferentes. Em uma delas, criam soluções para seus consumidores. Em outra, buscam alternativas para reduzir o custo de saúde de seus próprios funcionários. A empresa da maçã, por exemplo, está abrindo clínicas médicas chamadas de AC Wellness, para atender a 12 mil funcionários que trabalham na sede da companhia, em Cupertino. Se der certo, esse será um duro golpe da empresa contra o sistema de saúde americano que “nem sempre motiva as melhores e inovadoras práticas”, segundo Cook. Ou seja, poderão virar negócios acessíveis a todos.

Inteligência artificial: exame de retina desenvolvido pela Verily, subsidiária do Google, identificou riscos cardíacos nos pacientes (Crédito:Scott Olson/Getty Images/AFP)

Em Seattle, a companhia de Jeff Bezos firmou uma joint venture com o banco JP Morgan e a gestora Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, para gastar menos com a assistência médica dos 1,2 milhão de funcionários dessas três companhias. A ideia é que a parceria possa ajudar as empresas a economizar dinheiro com impostos, já que existem incentivos fiscais nos EUA para empresas que investem em saúde e bem-estar de seus trabalhadores. “A assistência médica nos EUA é extremamente ineficiente”, diz Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint. “O setor é entrincheirado com diversas empresas que ganham dinheiro por serviços prestados. E cada vez mais serviços são realizados.”

Mas, assim como o Google, a Apple e a Amazon também querem cuidar da saúde de seus clientes. A companhia comandada por Cook trabalha em formas de prever anormalidades cardíacas usando dados armazenados no relógio Apple Watch. Em outra iniciativa, ainda não confirmada, a empresa pode permitir, já na próxima atualização do sistema operacional do iPhone, o download de dados médicos dos usuários de hospitais americanos, o que transformaria o smartphone em um prontuário digital. A Amazon aposta na assistente virtual Alexa. Em maio, a emissora americana CNBC reportou que a companhia pretende que o robô virtual faça a leitura de níveis de glicose e de pressão arterial dos usuários.

Enquanto esse plano ainda está em fase embrionária, a Amazon dá passos mais largos na área farmacêutica. Em junho, a companhia comprou a varejista online de remédios PillPack. Fundada em 2013, a empresa se diferencia de uma farmácia online convencional, porque separa os remédios que o paciente precisa tomar por doses distribuídas em pequenos envelopes que são lacrados e contam com informações sobre os medicamentos e o horário em que eles devem ser ingeridos. “É um acordo que permite que a Amazon herde os clientes da PillPack e possa entregar remédios em quase todo o país”, diz Anurag Gupta, diretor de pesquisas da consultoria americana Gartner. Essa será a segunda vez que a varejista de Seattle tenta entrar nesse mercado. Em 1999, a Amazon firmou um acordo semelhante com a empresa Drugstore.com. Sem resultados significativos, a parceria foi dissolvida seis anos depois. Agora, no entanto, a Amazon é uma empresa que já vale US$ 1 trilhão e tem o poder de mudar os mercados em que entra.