Anthony Fauci, especialista em infectologia reconhecido mundialmente, tem demonstrado um novo talento contra o coronavírus: refutar delicadamente as declarações do presidente Donald Trump sem desafiar a autoridade de seu chefe.

Com seu tom calmo e profissional, Fauci se tornou a voz autorizada do governo diante da crise de COVID-19, concentrando-se em fazer declarações factuais e científicas, muitas vezes em conflito com a declarações do presidente, que tenta minimizar a situação ou prometer uma solução rápida para os milhões de americanos confinados.

“Ando numa linha tênue”, reconheceu recentemente ao jornal The New York Times. “Disse coisas ao presidente que ele não quer escutar e declarei publicamente coisas distintas do que ele afirma”.

Assim, quando Trump deu a entender em uma coletiva televisionada no início de março que uma vacina estaria disponível em “três ou quatro meses”, o especialista imediatamente declarou: “Não haverá uma vacina, começarão os testes para uma vacina”.

E acrescentou: “Como lhe disse, senhor presidente, levará de um ano a um ano e meio” antes de poder distribuir uma vacina eficaz e segura.

Mais recentemente, Trump exibiu pomposamente um medicamento utilizado no tratamento da malária para usar contra o novo vírus. Questionado no dia seguinte sobre o assunto, Fauci revelou que os estudos sobre a droga ainda eram “anedóticos”.

O especialista, no entanto, minimiza essas divergências públicas. “Não estou em desacordo sobre o fundo” com o presidente, afirmou em uma entrevista no domingo ao Science Magazine.

Trump “se expressa de uma maneira que eu não teria escolhido porque pode criar mal-entendidos sobre quais são os fatos”, mas sobre “questões importantes, ele me escuta”, acrescentou.

“Mas eu não posso me jogar no microfone para afastá-lo”.

Trump não parece ter nada contra ele. “É um homem bom. Realmente gosto do doutor Fauci”, afirmou na segunda-feira.

Filho de um farmacêutico, Anthony Fauci, entrou no Instituto Nacional da Saúde (NIH) em 1968, dois anos depois de se formar como médico. Imediatamente se especializou em imunologia.

Diretor do instituto nacional de doenças infecciosas desde os anos 80, Fauci, de 79 anos, se destacou na luta contra vários vírus, da aids e o ebola.

Foi premiado com a Medalha Presidencial da Liberdade em 2008 por seu trabalho na luta contra a aids e, mais recentemente, liderou a resposta americana ao zika e ao ebola.

Por conta de seu papel atual, alguns meios de comunicação já o consideram um “herói” e um “tesouro nacional”.

“Eu só quero dizer quais são os fatos”, declarou ao Times.