Doug Jones, o democrata que obteve uma vitória surpreendente nas eleições do senado no Alabama, é um defensor dos direitos civis em um estado que desempenhou um papel fundamental no movimento pela igualdade racial na década de 1960.

“Estou realmente entusiasmado”, declarou a seus partidários, comemorando a primeira vitória democrata no Alabama ao Senado dos Estados Unidos em 25 anos.

“Mostramos a este país a maneira como podemos estar unidos”, disse o senador, um ex-promotor de 63 anos.

Seu triunfo representa um verdadeiro terremoto político após uma campanha eleitoral centrada no republicano Roy Moore, um ex-juiz ultraconservador que foi acusado há algumas semanas de assediar adolescentes na década de 1970.

Apesar das polêmicas e do apoio incansável ao seu candidato, o presidente Donald Trump reconheceu a vitória de Jones.

“Uma vitória é uma vitória”, escreveu no Twitter.

– Aborto e mudança climática –

Nascido em Fairfield (Alabama), filho de um metalúrgico, Jones nunca disputou uma eleição.

Analistas e comentaristas apostavam numa derrota, creditando sua pouca chance de vencer ao fato de defender o aborto e acreditar nas mudanças climáticas, em um estado onde Trump venceu a candidata democrata Hillary Clinton por 28 pontos na eleição presidencial do ano passado.

Sua popularidade cresceu quando conseguiu em 2001 e 2002 a condenação de membros da Ku Klux Klan que detonaram em 1963 uma bomba em uma igreja em um bairro de maioria negra, um ataque no qual morreram quatro crianças.

O movimento em defesa dos direitos civis ganhou força após o ataque, que ocorreu alguns meses depois da prisão de Martin Luther King Jr. por organizar protestos não violentos contra a segregação racial.

“A justiça pode chegar tarde”, declarou Jones uma vez sobre o caso, “mas certamente ela chegará”.

Em 1980, foi nomeado assistente do promotor em Birmingham e, em 1997, foi nomeado procurador para o distrito norte do Alabama pelo então presidente Bill Clinton.

– Sorte mudou –

Enquanto Jones – pai de três filhos e avô de dois netos – parecia passar despercebido na corrida ao Senado, Moore foi uma figura que polarizou a sociedade do Alabama.

O republicano provou seu forte caráter quando foi obrigado a deixar duas vezes seu posto na Suprema Corte do estado. A segunda vez foi por desobedecer uma decisão da Suprema Corte americana sobre a legalização do casamento homossexual.

Mas a sorte do democrata mudou da noite para o dia, quando o jornal Washington Post revelou algumas semanas atrás que Moore teria abusado sexualmente de várias adolescentes décadas atrás.

O escândalo mobilizou os doadores democratas de todo o país, que começaram a enviar dinheiro para a campanha de seu candidato para financiar anúncios na televisão buscando o voto do eleitorado negro.

O ex-vice-presidente Joe Biden participou em um comício em outubro, enquanto o ex-presidente Barack Obama pediu votos para Jones.