Ganhando tração no mundo, a variante Ômicron do Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, ainda é pouco conhecida pela comunidade científica, já que foi descoberta na África do Sul há menos de 3 semanas e os dados em torno da mutação ainda são iniciais. Especialistas, porém, já apontam que as vacinas, incluindo as doses de reforço, são a melhor arma até o momento contra essa e demais variantes do Sars-CoV-2, coronavírus que causa a Covid-19.

Raquel Stucchi, infectologista professora da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), lembra que é crucial manter um intervalo de imunização com doses de reforço a cada 6 meses, no máximo 9 meses. Dessa forma, os anticorpos seguem ativos e preparados para combater uma nova invasão da Covid-19 ao organismo humano.

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Desde o mês passado, o Ministério da Saúde do Brasil está adotando um intervalo de aplicação das doses de reforço de 5 meses. Isso significa que você já pode tomar uma dose de reforço (no caso, a terceira dose) se esse prazo já estiver vencido. Para quem tomou a dose única da Janssen, imunizante que passou por modificações na bula, e foi adaptada para conter novas variantes, a segunda dose pode ser aplicada após 2 meses da primeira dose.

Vale lembrar que as campanhas de vacinação locais precisam acompanhar o ritmo nacional. São Paulo, por exemplo, é um estado que está em consonância com as diretrizes federais, mas outras regiões ainda patinam na primeira dose de seus habitantes.

Nesta quarta-feira (7), o secretário de saúde do Reino Unido, Sajid Javid, emitiu o mesmo entendimento sobre o intervalo de 6 meses e disse que existe uma possibilidade de as vacinas serem menos eficazes contra a Ômicron. No entanto, elas devem proteger infectados de evoluírem em quadros mais graves. “Nossa melhor forma de defesa ainda continua sendo nossas vacinas”, disse.

Essa opinião é semelhante à de Ugur Sahin, diretor-presidente da BioNTech, desenvolvedora da vacina com a Pfizer. Em entrevista à Dow Jones, ele indicou que mesmo que mais pessoas acabem infectadas, os anticorpos em pessoas vacinadas devem ajudar a combater a variante. “O plano continua o mesmo: acelerar a administração de uma terceira dose de reforço”, comentou ele, que pediu para as pessoas não entrarem em pânico com a Ômicron.

Qual a eficácia das vacinas contra a nova variante?

Essa é uma pergunta que Pfizer, Janssen, Moderna e AstraZeneca – farmacêuticas com vacinas desenvolvidas contra a covid-19 e suas variantes – tentam responder. As companhias já anunciaram que estão pesquisando formas de adaptar seus imunizantes e entender a eficácia contra a nova cepa.

O ministério da Saúde de Israel publicou um relatório nesta terça-feira (30) indicando uma possível eficácia da Pfizer contra a Ômicron. A taxa de eficácia de combate da Pfizer contra o vírus comum é, em média, de 95%, mas no relatório israelense essa taxa caiu para 90% contra a Ômicron. A possibilidade da vacina ajudar na prevenção de sintomas graves é de 93%.

Esses dados ainda precisam de revisão da comunidade científica, mas já apontam bons resultados, segundo Raquel Stucchi. Ela cita uma aparente discordância entre a Moderna, que ontem indicou possível necessidade de fabricar uma nova vacina contra a Ômicron, e os dados preliminares da Pfizer em Israel, mas acredita que isso não seja negativo.

“Apesar deste contraponto entre Moderna e Pfizer, parece que as vacinas vão continuar eficazes”, comentou ela.

Para a especialista, a baixa cobertura vacinal da África do Sul, onde a variante foi detectada, é o principal problema para a leitura real do potencial infeccioso do vírus. E ela alerta exatamente para o mesmo ponto no Brasil, uma vez que estados mais desenvolvidos estão com a campanha de vacinação a pleno vapor, mas regiões mais pobres ainda contam com baixa incidência de vacinados entre a população.

“O Brasil está comemorando um pouco mais de 60% de vacinação completa, mas hoje o que vale é olharmos a porcentagem de pessoas vacinadas há 6 meses. Essa vacinação ainda é muito irregular, já que temos estados do Norte, por exemplo, com 30% de vacinação completa. Se não tivermos algo homogêneo, corremos o risco não só da maior transmissão da Ômicron, mas também do aparecimento de outras variantes, e não sabemos qual será o potencial de ‘maldades’ desta variante que poderá surgir”, alertou Raquel.

Sylvia Lemos Hinrichsen, médica infectologista e consultora em Biossegurança da SBI, acredita que o momento é de observação dessa nova variante, de coletar todos os dados possíveis e aguardar os relatórios oficiais das farmacêuticas. “É muito importante ver, clinicamente, como esses pacientes vão se apresentar, fazendo a diferença de quem teve Covid e está vacinado, daqueles que estão infectados e não foram vacinados”, disse .

O que já se sabe sobre a variante Ômicron?

Sabe-se, por exemplo, que ela apresenta 32 mutações na proteína ‘spike’ (ou espícula), uma parte considerada a “chave de entrada” para o coronavírus no corpo humano, mas os médicos não sabem como é o comportamento dela, no organismo.

Em comparação com a variante Delta, que causou temor em todo o mundo, no início do segundo semestre, os sintomas são diferentes: enquanto na Delta as pessoas infectadas costumam apresentar pulsações elevadas, baixos níveis de oxigênio e perda de olfato e paladar, a Ômicron causa fadiga, dores de cabeça e corporais, além de dores na garganta e tosse.