Os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ambos do PSDB, se disseram preocupados com as tentativas do governo federal de cooptar suas polícias. Eles fizeram a análise durante o painel “Desafios do Brasil”, do Brazil Conference at Harvard & MIT, evento organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão.

A pergunta sobre a institucionalidade, da ação do presidente Jair Bolsonaro de demitir comandantes das Forças Armadas, tirar o comando sobre a polícia dos governos e a intenção de aumentar as armas, foi direcionada aos dois governadores presentes ao evento virtual. O ex-ministro Ciro Gomes, porém, pediu para comentar o assunto dizendo que estava mais livre porque está fora do governo atualmente. “O delírio do Bolsonaro é formar uma milícia para resistir de forma armada a uma derrota eleitoral que se aproxima”, diagnosticou o cearense.

Leite disse que se preocupa com este tema desde que visualizou a tentativa de conectar o governo federal com as polícias dos Estados, durante a reforma da Previdência. “Isso foi uma interferência do governo, buscou interferir em seus policiais. Isso é bastante grave, mas o Rio Grande do Sul não se subordinou a isso e fizemos a nossa própria mudança previdenciária”, destacou, acrescentando que são inúmeras tentativas de desestabilizar essa relação.

O governador lembrou também que o dinheiro para combater a covid-19 enviado pelo governo federal era uma obrigação constitucional. “Há mentiras, fake news, desestabilização da relação. É uma forma de tentar diminuir poderes de governadores”, citou. Para Leite, há uma tentativa repetitiva de colocar as instituições e política sob suspeita. “Temos que estar atentos”, avisou. “Às vezes, não só por parte do presidente, mas de seus aliados e subordinados. Ele não consegue conviver com as diferenças”, disse, comentando que Bolsonaro tem arroubos autoritários que não atendem à distribuição de poderes.

Na mesma linha, Doria afirmou que o presidente “flerta com o autoritarismo” desde o primeiro mês de mandato. E esta ameaça, de acordo com ele, vai continuar. “Se pudesse ser ditador, já teria sido”, imaginou, acrescentando que, ainda que tenha sido eleito pelo voto, trata-se de um governo autoritário. “Este é um governo que não tolera nenhuma espécie de contraditório, de crítica.”

Na avaliação do governador de São Paulo, querer romper o pacto federativo é um “absurdo”, mas ele disse acreditar que os integrantes das forças da Polícia Militar não vão sucumbir ao presidente ou a seus filhos. “Mas estejamos atentos porque as tentativas vão continuar para calar jornalistas, emudecer cientistas, artistas, silenciar governadores”, previu. “Aqui não tem mordaça, não Jair Bolsonaro. Seja você, ou 01, 02, 03 ou tantos zeros que têm na sua casa, na sua inteligência”, citou em relação à forma como o presidente chama seus filhos.