Twinings, Jordans, Mauri e Gran Finale. Marcas que provavelmente passariam despercebidas por consumidores em qualquer padaria ou supermercado no Brasil. Mas basta citar Fleischmann e Ovomaltine para que memórias antigas venham à cabeça. Todas têm em comum o fato de estar sob o guarda-chuva da AB Brasil, multinacional que investe atualmente R$ 400 milhões no País para ações de ESG, ampliação da estrutura fabril e a construção de uma estação de tratamento de efluentes em São Paulo, onde estão os seus negócios. “Somos os líderes em fermento, em misturas para bolo, em ovos, embalagem UHT. Temos a marca que mais cresce em chantilly [Fleischmann Gran Finale]. Os nossos negócios são bem diversificados”, disse à DINHEIRO Danilo Nogueira, presidente da AB Brasil.

A AB Brasil é, desde 2005, uma empresa da Associated British Food (ABF), quarto maior grupo produtor de alimentos da Europa, com faturamento de US$ 22 bilhões no ano passado. As operações pelo mundo empregam 118 mil funcionários em 47 países. No Brasil são 900 colaboradores distribuídos por unidades na capital paulista, além de cidades pelo interior do estado, como Jundiaí, Sorocaba e Pederneiras, na região de Bauru. São produzidas anualmente mais de 120 toneladas de ingredientes alimentícios.

80% foi o pico de volume de preparação de pães caseiros atingido na pandemia. antes, número era de 20%

Desde o advento da pandemia ao Brasil, em 2020, o negócio de fermento é o que mais ganhou força no mercado brasileiro. Antes da crise sanitária, 20% dos lares preparavam pães caseiros, volume que atingiu pico de 80% durante o período de isolamento. Para facilitar a vida dos novos cozinheiros, a empresa lançou o kit Pão Pronto, que dispensa a sova, um dos principais desafios para quem prepara pão, além do Super Fleischmann, uma mistura de fermento biológico e enzimas, para o pão crescer até 20% mais. “Mas enxergamos oportunidade de crescimento em todos os negócios.”

A expansão da capacidade fabril é uma das principais estratégias diante do aumento das vendas para indústria de alimentos, comércio (padarias e confeitarias) e varejo, os focos da AB Brasil. Os três segmentos puxaram o faturamento de R$ 1 bilhão em 2021. “Em 2023, deveremos repetir o crescimento médio de um dígito”, disse Nogueira. E, para dar conta do avanço da demanda, a planta em Pederneiras ganhará 30% mais de capacidade ao término da ampliação, neste ano. No local são produzidos fermentos, mistura para pães e bolos, recheios e coberturas, incluindo cremes vegetais como chantilly.

As transformações na fábrica em Pederneiras envolvem também sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Dos R$ 400 milhões investidos conjuntamente pela AB Brasil e pela ABF na fábrica, R$ 300 milhões são direcionados à construção de uma estação de efluentes. A ideia visa eliminar produtos contaminantes presentes em líquidos residuais antes de serem devolvidos à natureza ou reutilizados para outros fins não potáveis. “As empresas como um todo ganharam esse foco muito relevante dentro do ESG. E a gente colocou nesse investimento a grande iniciativa do grupo com sustentabilidade”, disse Nogueira.

Uma parte da estação de efluentes já está em operação na planta interiorana e tem contribuído para a redução do consumo de energia. “A estação consegue reaproveitar parte do resíduo para gerar energia que abastece a própria fábrica. “Atualmente, já temos 25% do consumo de energia da fábrica gerado a partir do resíduo que ela produz.” Já na planta de Sorocaba são fabricados ovos e derivados de ovos pasteurizados.

O crescimento dos negócios da AB Brasil se estendeu ao mundo digital. Em novembro, a empresa anunciou o lançamento de um marketplace voltado exclusivamente ao mercado B2B de panificação. A Panishop, desenvolvida em parceria com a Infracommerce, ecossistema para e-commerce, conecta distribuidores a donos de padarias. Inicialmente, o projeto funciona de forma piloto com 200 padarias em São Paulo. A vitrine tem mais de 180 produtos, como fermentos e recheios.

A AB Brasil fornece basicamente todos os ingredientes que uma padaria precisa para produzir os pães e os bolos que coloca na sua vitrine. “O marketplace também comercializa produtos de marcas que não são concorrentes ao portfólio da AB Brasil mas, sim, complementares, como margarinas” , afirmou o presidente. Uma forma de trazer os distribuidores para dentro do modelo de negócio e de fazer o fermento da AB Brasil crescer ainda mais.