O dólar chegou próximo de engatar o sexto dia seguido de queda ante o real, mas no final dos negócios o movimento perdeu força e a moeda norte-americana acabou encerrando o dia perto da estabilidade. A mudança ocorreu refletindo comportamento semelhante da divisa americana no exterior, que passou a renovar máximas nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, como o México, em meio a um movimento de realização de ganho após as quedas recentes e preocupações com o avanço da pandemia ao redor do mundo.

No mercado doméstico, operadores destacam que prevaleceu também a tradicional cautela antes do feriado da quarta-feira, 21, um dia antes do prazo final para o presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionar o Orçamento de 2021, que após acordo do Planalto com o Congresso deixa R$ 125 bilhões em despesas fora do teto e provocou uma mistura de sensação de alívio com frustração nas mesas de operação.

No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia estável (+0,01%), a R$ 5,5508. No mercado futuro, o dólar para maio subia 0,23% às 17h40, cotado em R$ 5,5625.

Na esperada participação do ministro Paulo Guedes na tarde desta terça na entrevista da Receita para apresentar a arrecadação de março, que veio com números fortes, o ministro disse que no acordo para o Orçamento, embora com despesas fora do teto, os gastos obedecem compromisso com a saúde e com o fiscal. “Gastos recorrentes continuam sob o teto e mostram compromisso com responsabilidade fiscal”, disse ele.

As declarações não afetaram os preços, mas foram monitoradas de perto e nas mesas de operação havia um misto de alívio pelo impasse do orçamento ter finalmente chegado ao fim com frustração por gastos fora do teto e constatação de que o compromisso com a disciplina fiscal em Brasília, ao contrário do que Guedes falou, já não é forte e pode diminuir.

“O debate do Orçamento caminho para um desfecho. Se o resultado não será o pior dos mundos imaginado anteriormente, tampouco traz uma confiança grande no comprometimento com o ajuste fiscal do país”, comenta o estrategista-chefe e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, em sua análise diária.

Se a pandemia não der trégua, a pressão em Brasília para aumentar gastos públicos além do teto vai persistir, a menos que as taxas de aprovação de Bolsonaro melhorem, avaliam os economistas do Citi nesta terça-feira. O banco americano vê despesas superando o teto de gastos este ano em R$ 158 bilhões, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa anterior do Citi era que o rombo ficasse em 1%, ou R$ 75 bilhões, mas o número ficou ultrapassado.

“O balanço de riscos permanece enviesado em direção a números maiores de déficits”, alertam os economistas do Citi para Brasil, Leonardo Porto, Paulo Lopes e Thais Ortega. “O que acabou acontecendo no Brasil (com a pandemia) superou até as mais pessimistas das avaliações”, completam. “Mais medidas fiscais devem vir em breve.”