Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar registrou nesta terça-feira o quarto pregão consecutivo de alta, mais longa série do tipo em três meses, que levou a cotação ao maior patamar desde meados de fevereiro e acima de 5,15 reais.

A alta do dólar –em outras palavras, a depreciação da taxa de câmbio– ocorreu em sintonia com novo dia de perdas na bolsa de valores brasileira, mais uma vez pela queda dos preços das commodities. O rali das matérias-primas nas últimas semanas havia oferecido um escudo aos ativos domésticos, em meio ao chacoalhão global decorrente da guerra da Ucrânia e de suas consequências econômicas.

Preocupações com desdobramentos de novos lockdowns na China por causa de um forte aumento de casos de Covid-19 no país e certo nervosismo antes das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos contribuíram para a realização de lucros na taxa de câmbio nesta terça.

Tanto que o real, que registrou o melhor desempenho global nas semanas seguintes ao início da guerra na Ucrânia, desde a véspera figura entre as moedas de pior desempenho global. Nesta terça, revezou com o peso colombiano (outra divisa “vencedora” durante o conflito no leste da Europa) o posto de maior queda diária entre os principais pares do dólar.

Ibovespa cai com peso de commodities, na contramão de Wall Street

Veja gráficos do comportamento de algumas moedas emergentes logo depois da eclosão da guerra, no fim de fevereiro, e desde a semana passada, quando as commodities começaram a cair. O real e o peso colombiano se destacaram positivamente no início, mas lideraram as perdas nos últimos dias.

Desde 25 de fevereiro:

Desde 9 de março:

O dólar à vista fechou esta terça-feira em alta de 0,75%, a 5,1584 reais –valor mais alto desde 17 de fevereiro (5,1668 reais), bem antes de a Rússia invadir território ucraniano.

Em quatro pregões consecutivos de ganhos, a cotação saltou 2,91%. A série é a mais longa desde os cinco dias de valorização registrados entre 9 e 15 de dezembro do ano passado.

Ao longo da sessão, o dólar oscilou entre 5,0926 reais (-0,54%) e 5,1707 reais (+0,99%).

“O fundamento do Brasil por ora não mudou muita coisa, o que poderia manter o dólar em baixa”, disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, baseado no Estado da Flórida, EUA.

“O que poderia mudar um pouco isso seriam novas isenções fiscais, o que para os investidores poderia soar como certo relaxamento sobre os gastos”, completou, referindo-se a discussões no governo sobre subsidiar os preços dos combustíveis, enquanto se cogitou ainda aumentar gastos no Auxílio Brasil.

“Mas o real ainda pode ter espaço para valorizar, até porque acho que o Fed está blefando. Ele deve amanhã aumentar os juros, mas não acredito que vá sinalizar muitas altas à frente”, disse o economista, pontuando que, nesse cenário, o dólar perderia força no mundo, o que se estenderia ao Brasil.

O banco central dos Estados Unidos deve elevar na quarta-feira a taxa de juros pela primeira vez em mais de três anos. Poucas horas depois, será a vez de o BC brasileiro informar sua decisão de política monetária, com ampla expectativa de elevação de pelo menos 1 ponto percentual da Selic.

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