Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar voltou a fechar em firme alta nesta quarta-feira, ficando acima de 4,70 reais, no maior valor em quase uma semana, com investidores dando continuidade a um movimento de correção na divisa norte-americana tendo como argumento a força da moeda no exterior e preocupações com a China.

Em dois dias, o dólar registrou a maior alta acumulada desde fevereiro.

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Nesta quarta, a moeda negociada no mercado à vista subiu 1,21%, a 4,7147 reais na venda –máxima desde 31 de março (4,7628 reais).

Ao longo do dia, a cotação oscilou de 4,6487 reais (-0,21%) a 4,7235 reais (+1,40%).

O real não esteve sozinho na queda nesta quarta. Peso mexicano, peso chileno, peso colombiano, lira turca e dólar australiano caíam entre 0,3% e 1,7%. Já o índice do dólar frente a uma cesta de importantes pares bateu um pico em quase dois anos.

O bloco de moedas de risco caiu nesta quarta em meio a perspectivas de que os EUA apertem sua política monetária de forma mais contundente, efetivamente drenando liquidez em dólar, reduzindo a oferta da moeda –o que eleva seu preço.

No caso dos ativos da América Latina, a pressão foi aumentada por preocupações com a economia da China (importante destino das exportações da região), depois que o país voltou a colocar milhões de pessoas em lockdown por causa de novo surto da pandemia. Em março, a atividade no setor de serviços chinês contraiu no ritmo mais acentuado em dois anos.

O dólar vinha de apreciação de 1,10% na véspera. Com isso, a valorização acumulada em dois dias é de 2,33%, a mais forte desde 25 de fevereiro (+3,06%).

A renovada demanda pela moeda no Brasil tem ocorrido após um período de queda da cotação que a levou aos menores patamares em dois anos, a 4,60 reais. Nesta semana, contudo, a tendência de baixa tem sido colocada à prova, e alguns analistas começam a adotar postura mais conservadora.

Após uma valorização cambial de 20,97% no acumulado do ano até a segunda-feira passada –a maior dentre as principais moedas emergentes–, o Goldman Sachs diz que o risco-retorno do real está “erodindo”, mesmo com elementos ainda favoráveis, como maior diferencial de juros, posicionamento ainda leve dos estrangeiros na renda fixa local e exposição ampla às commodities.

“O risco-retorno está menos atraente após uma forte corrida (de alta) no acumulado do ano, o cenário para o crescimento doméstico está enfraquecendo à medida que o rápido ciclo de alta de juros pelo Copom impacta a atividade econômica e há a possibilidade de que, à medida que a eleição do Brasil em outubro se aproxima, a visão otimista do mercado sobre os riscos eleitorais e fiscais possa ser reexaminada”, disseram profissionais do banco em relatório.

Pelos dados da CFTC, uma agência norte-americana, especuladores que operam na Bolsa de Chicago têm mantido as apostas de valorização do real de forma geral nos mesmos patamares há quatro semanas, depois de elevarem o posicionamento em ritmo acelerado nas semanas anteriores.

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