O dólar segue se fortalecendo nesta quinta-feira (5) acompanhando  o mercado internacional que está se precavendo diante do risco que os juros nos Estados Unidos tenham de subir mais do que o esperado para controlar a inflação por lá.

A moeda norte-americana à vista fechou a cotação desta quinta em alta de 2,34%, a 5,0166 reais na venda e variou entre alta de 0,58% (para 4,9305 reais) e ganho de 3,21% (para 5,0592 reais).

+ Estrangeiro tira R$1,7 bi da B3 dia 29 e abril tem 1º saldo negativo mensal em 2022

Além dos investidores de olho nos juros dos Estados Unidos e na alta da Selic no Brasil, agora 12,75% ao ano, outros pontos interferem nesse movimento de alta do dólar: o lockdown na China e a baixa no preço das commodities.

Juros em alta

O mercado norte-americano é apontado como o mais seguro do mundo e mesmo que pague um retorno menor ao investidor neste momento, os riscos são menores do que uma economia em crise e suscetível aos ventos políticos de embate, como é o caso do Brasil.

E para controlar a maior inflação dos últimos 40 anos, o Fed deve entrar no segundo ciclo de alta dos juros para reverter o aumento nos preços aos consumidores e deve retirar de circulação no mercado bons trilhões de dólares. Com investimentos mais rentáveis, a fuga de capital é esperada pelos analistas.

“Além da alta dos juros, o Fed divulga também como fará a redução no balanço e esse é o grande motivo da alta do dólar ao redor do mundo. Com essa redução no balanço o Fed deve retirar da economia quase US$ 4 trilhões, por venda de títulos públicos e hipotecários, valor bem alto até mesmo para uma grande economia como a americana”, explicou Ricardo leite, estrategista-chefe da Diagrama Investimentos.

O dólar está se fortalecendo ante moedas como o euro, com a moeda europeia a US$ 1,05 (menor valor desde 2001) e o iene, do Japão.

Elson Gusmão, analista de câmbio da Ourominas, avalia, no entanto, que essas flutuações do câmbio já estão precificadas pelo mercado e que mais importante para definir o futuro do dólar do que o aumento nos juros dos EUA, é saber qual o apetite do banco central norte-americano para os futuros ajustes.

“Com o Fed subindo a taxa 0,5 p.p. não acredito em grandes mudanças, já que o mercado está precificando isso. Ficaremos de olho em alguma outra sinalização do Fed para novos aumentos, o que, aí sim, dependendo da sinalização, pode fazer com que o real se deprecie em relação ao dólar”, completou.

Lockdown na China

No caso da China, o país passa por um momento de restrição total da população em Xangai e protocolos rígidos em Pequim para conter ameaça da Covid-19. Como é de se esperar, os problemas logísticos no gigante asiático estão afetando a cotação do dólar – as interrupções promovidas pelo feriado do 1° de maio também operaram negativamente neste momento.

“Há importadores e exportadores reavaliando estratégias em meio a possibilidade de problemas logísticos por conta da situação na China”, disse Marcos Almeida, head de Serviços Financeiros da WIT Exchange.

Commodities em desbalanço

Mesmo com a alta do dólar nos últimos dias, o mercado brasileiro segue com os mesmos atrativos que levaram à valorização do real nos últimos meses. Commodities como a soja, milho, minério de ferro e outras matérias-primas estão em alta, muito em função da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Isso, faz entrar mais dólares no país, o que faria o câmbio cair.

Por outro lado, o petróleo e o minério de ferro são apontados por Elson Gusmão, da Ourominas, como dois fatores que ajudam a explicar uma parte do refluxo de capitais aportados no Brasil. Ambos em alta nos últimos 3 meses, voltaram a cair nos últimos dias, com petróleo oscilando acima dos R$ 100 e o minério em queda livre há 1 mês. O movimento faz o Brasil deixar de receber dólares dos compradores, o que faria o valor da moeda americana, eventualmente mais escassa, subir em relação ao real.

Esse desbalanço não seria tão significativo para a relação dólar-real quanto a atratividade dada pelos Estados Unidos ao fluxo de capitais. Essa, sim, deve manter o dólar se direcionando ao norte e provocando a desvalorização da moeda brasileira.