SÃO PAULO (Reuters) – O dólar engatou a quinta queda frente ao real nesta segunda-feira, com investidores colocando nos preços algum alívio sobre os rumos do Orçamento e novo dia de enfraquecimento da moeda norte-americana no mundo.

Ao fechar numa mínima em cerca de um mês, a cotação zerou os ganhos conquistados após a forte reação negativa do mercado à aprovação da peça orçamentária pelo Congresso em 25 de março.

O dólar à vista caiu 0,57% nesta segunda, a 5,5538 reais na venda, após variar entre 5,6232 reais (+0,67%) e 5,5278 reais (-1,03%).

Lá fora, o índice do dólar perdia 0,57%, para mínimas em seis semanas. Um índice de moedas emergentes tocou máxima em um mês.

+ Ibovespa tem queda discreta com ajustes; Petrobras sobe quase 6%

No Brasil, a moeda dos EUA teve o quinto pregão seguido de desvalorização, período em que perdeu 3,00%. O dólar não caía por tantos dias consecutivos desde a sequência de seis baixas finda em 27 de maio do ano passado.

A cotação está no menor patamar desde 23 de março de 2021 (5,5168 reais). Em 29 de março, em meio ao mal-estar fiscal, a divisa fechou numa máxima de 5,7681 reais, 3,86% acima do nível desta segunda.

O dólar vinha em alta nesta sessão até por volta de 11h15, quando uma série de ordens de vendas foram acionadas e derrubaram a cotação. No mesmo momento, o índice do dólar frente a uma cesta de divisas no exterior também acelerou a queda.

De forma geral investidores globais seguiram repercutindo a percepção de que o banco central dos Estados Unidos manterá estímulos por tempo indeterminado, enquanto a retomada econômica no mundo amplia a demanda por ativos mais arriscados, caso das moedas emergentes –grupo do qual o real faz parte.

Apesar de toda a volatilidade, a divisa brasileira tem seguido o comportamento de seus pares mais recentemente.

Para Sérgio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights, o real tem respondido à combinação entre cenário externo favorável e redução do risco de cauda doméstico.

“O risco de cauda seria uma decretação de estado de calamidade pública, expansão maior dos gastos fiscais… mas parece que a probabilidade desse risco agora é muito pequena. Com isso, você não tem uma piora muito grave nas contas públicas neste ano”, afirmou.

Na semana em que o presidente Jair Bolsonaro tem de decidir o que fará com o polêmico texto do Orçamento 2021 aprovado pelo Congresso, o mercado reagiu a informações de que governo e parlamentares chegaram a um acordo sobre a questão.

O Congresso Nacional vota nesta segunda-feira projeto de lei que, com o aval do governo, flexibiliza regras para despesas com o enfrentamento à pandemia da Covid-19 e permite que o Executivo corte por decreto (e não lei, como é feito normalmente), despesas discricionárias, como aquelas voltadas à manutenção da máquina pública, para garantir o atendimento às despesas obrigatórias.

“A solução que vão dar ao Orçamento não é a ideal, mas todo aquele risco de cauda parece que está ficando para trás”, acrescentou Goldenstein.

Analistas de mercado têm repetido que a fraqueza do real decorre sobretudo do elevado risco fiscal no Brasil, com incertezas sobre a sustentabilidade da dívida e seus potenciais impactos sobre tendências de crescimento econômico.

A moeda brasileira cai 6,52% em 2021, em termos nominais, terceiro pior desempenho no ano. Apenas peso argentino (-10,1%) e lira turca (-8,2%) caem mais.

Juntando a fraqueza deste ano com o tombo de mais de 20% em 2020, o real é a divisa mais barata do mundo emergente, conforme estudo do Bank of America baseado em resultados de exercícios com um novo modelo de cálculo de taxa de câmbio justa.

Por essa abordagem, o real está 24% mais barato do que o sugerido pelos fundamentos, maior desvio negativo numa lista de 20 moedas emergentes. O valor justo para a moeda estaria em 4,26 por dólar.