Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subia frente ao real nos primeiros negócios desta sexta-feira, mas mostrava alguma volatilidade, com investidores digerindo uma leitura de inflação norte-americana em dia de fechamento da taxa de câmbio Ptax de fim de mês antes do fim de semana prolongado no Brasil.

Às 10:31 (horário de Brasília), o dólar à vista avançava 0,33%, a 4,9964 reais na venda.

Na B3, às 10:31 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,14%, a 4,9960 reais.

“Em síntese: exterior negativo, local aqui tranquilo, e o mercado operando com liquidez distorcida como de costume pela formação da Ptax mensal hoje”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, citando ainda alguma cautela antes do feriado do Dia do Trabalho, que manterá os mercados locais fechados na segunda-feira.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Mais cedo, dados norte-americanos mostraram que o índice de preços PCE subiu 0,1% em março, após alta de 0,3% em fevereiro. Nos 12 meses até março, o índice aumentou 4,2%, após alta de 5,1% em fevereiro. Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice avançou 0,3%, repetindo a taxa de fevereiro.

“A leitura geral dos índices inflacionários nos EUA mostra que o indicador cheio mostra moderação mais elevada, porém o núcleo mostra uma certa resistência… com dificuldade de queda”, disse Leonel Oliveira Mattos, analista de inteligência de mercado da Stonex.

“Isso tem reacendido nos investidores alguns temores de que a economia mundial vá passar por um momento mais difícil em que as autoridades monetárias vão precisar manter uma postura mais rígida de aperto monetário.”

Num geral, juros mais altos nos Estados Unidos tendem a favorecer o dólar globalmente, uma vez que elevam os retornos do extremamente seguro mercado de renda fixa norte-americano.

Enquanto isso, no Brasil, investidores digeriam uma alta na taxa de desemprego no primeiro trimestre, bem como a recuperação da atividade econômica medida pelo IBC-Br em fevereiro.

“Acho que a conclusão é de que nada disso deva estimular o BC aqui a cortar juros antes do previsto. Isso também me parece uma leitura unânime do mercado, a despeito da pressão política forte” por cortes da taxa Selic, atualmente em 13,75%, disse Bergallo, da FB Capital.

O nível elevado da Selic tem sido um dos pilares de sustentação do real, uma vez que deixa a moeda atraente para uso em estratégias de “carry trade”. Estas consistem na tomada de empréstimo em país de juros baixos e aplicação desses recursos em mercado mais rentável.

Analistas têm dito que eventuais cortes da taxa Selic não necessariamente derrubariam o valor da divisa local, desde que fossem realizados de forma gradual e consistente com uma redução da inflação, de forma que os rendimentos reais não sofressem uma queda brusca.

No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado por um afrouxamento monetário imediato, o que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem alertado ser caminho preocupante para a credibilidade do país.

O dólar estava a caminho de encerrar a semana em queda de 1,18% e o mês de abril em baixa de 1,38%, o que marcaria uma segunda desvalorização mensal consecutiva.

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