O dólar teve o segundo dia seguido de queda ante o real, novamente com peso determinante do noticiário externo, com os investidores animados pelas perspectivas de retomada da economia norte-americana e mundial, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorando suas previsões de desempenho este ano. A moeda americana caiu ante divisas fortes e emergentes, e na mínima no Brasil chegou a R$ 5,57, com a notícia de que a Califórnia planeja reabrir sua economia a partir de 15 de junho.

A perspectiva de que o governo vai encontrar uma solução para o Orçamento de 2021 e a conversa do presidente Jair Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a vacina Sputnik V também contribuíram para retirar pressão do câmbio, ajudando o real a ter o melhor desempenho no mercado internacional nesta terça, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas.

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O FMI condicionou nesta terça à retomada da economia mundial justamente ao processo de vacinação em massa e o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse no período da tarde que a política fiscal mais importante neste momento é a vacinação da população.

No fechamento, o dólar à vista terminou em baixa de 1,41%, a R$ 5,5998 – o primeiro fechamento abaixo de R$ 5,60 desde 23 de março. No mercado futuro, o dólar para maio era negociado em baixa de 1,34%, a R$ 5,5975 às 17h40.

Para o sócio e economista-chefe da JF Trust Gestão de Recursos, Eduardo Velho, a percepção de risco dos investidores sobre o Brasil ainda é alta, o que tem limitado a melhora do real. Nesse ambiente, o dólar tem encontrado dificuldade de cair abaixo do suporte de R$ 5,52. “É difícil ver o câmbio abaixo disso, há muito risco no Brasil ainda, uma percepção de cautela.”

Assim, mesmo com alta liquidez mundial e preços das commodities em ascensão, o economista da JF observa que não tem havido fluxo consistente para o Brasil e o real segue desvalorizado. Por isso, este movimento de melhora no câmbio pode se mostrar pontual.

O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, alertou que o Brasil permanece como um dos mais vulneráveis a um episódio de estresse no mercado internacional, como o ocorrido em 2013. A diferença, observa o IIF, é que naquele ano a maior vulnerabilidade da economia brasileira eram as contas externas deterioradas, e agora o risco é o lado fiscal. “O Brasil era parte do grupo de cinco países mais frágeis em 2013 e permanece vulnerável hoje.”

O analista de mercados do Western Union, Joe Manimbo, observa que o crescente otimismo com a economia americana, com alguns bancos, como o Goldman Sachs, prevendo crescimento de mais de 7% este ano, e a elevação das taxas de retorno dos juros longos dos EUA vêm fazendo o dólar testar máximas em vários meses ante algumas moedas, como o iene. Para ele, o rápido avanço da vacinação nos EUA e a visão de aceleração da atividade devem seguir dando suporte ao dólar.