O dólar voltou a exibir perdas em relação a outras moedas principais nesta sexta-feira, 26, à medida que investidores continuaram a vender a divisa americana em meio a falas consideradas “inconsistentes” de autoridades dos Estados Unidos e com a possibilidade de uma nova paralisação do governo federal americano.

No fim da tarde em Nova York, o dólar caía para 108,76 ienes e o euro operava estável a US$ 1,2410. Já o índice DXY, que mede a moeda americana contra uma cesta de outras seis divisas fortes, fechou em baixa de 0,36%, a 89,067 pontos, no menor nível desde dezembro de 2014.

Na tarde da quinta-feira, 25, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o dólar “vai ficar cada vez mais forte”, contradizendo o seu secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, que havia dito preferir o dólar desvalorizado para ajudar no comércio. Na avaliação da RBC Capital Markets, “a inconsistência dos comentários de Trump e Mnuchin provavelmente deixará os mercados com a visão de que não há política para o dólar”. Na manhã desta sexta-feira, 26, o secretário do Tesouro tentou consertar a forte queda do dólar e disse, em entrevista ao Wall Street Journal, que o dólar no curto prazo “não é uma preocupação minha”. No longo prazo, ele reiterou que a divisa dos EUA mais valorizada “é um sinal do sucesso econômico do país”.

Ainda assim, as autoridades americanas “precisarão de mais tempo para mudar a visão do mercado de que, nas circunstâncias atuais, os EUA se contentariam com o dólar fortalecido”, disse o co-diretor global de estratégia de câmbio no Deutsche Bank, Alan Ruskin, em nota a clientes.

As perdas do dólar desta sexta-feira não conseguiram ser revertidas nem mesmo com indicadores da atividade em solo americano. O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu à taxa anualizada de 2,6% no quarto trimestre, abaixo do esperado por analistas, que previam expansão de 2,9%. O Departamento do Comércio, no entanto, fará mais duas revisões do PIB.

Também durante a tarde, a reforma imigratória nos EUA pesou no dólar e fez com que a divisa americana renovasse sucessivas mínimas. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, usou seu perfil no Twitter para indicar que não apoia o plano de imigração divulgado pela Casa Branca. Ele acusou Trump de usar jovens imigrantes como “ferramenta para destruir nosso sistema de imigração legal”. Pouco depois, Trump rebateu Schumer e disse que o líder democrata era o obstáculo para uma reforma imigratória. Republicanos e democratas precisam chegar a um acordo até 8 de fevereiro, quando vence o prazo do orçamento tampão aprovado no Congresso na última segunda-feira.

No entanto, com os dois lados em pé de guerra, as chances de uma nova paralisação do governo voltou a assombrar os mercados. Em nota a clientes, a economista-chefe do Stifel, Lindsey Piegza, lembra que outro “shutdown” poderia resultar em um impacto negativo significativo no crescimento a curto prazo.