O dólar teve um dia de acomodação hoje, após a forte piora da tarde de ontem. No mercado futuro, a moeda americana chegou a encostar em R$ 5,90 no final da segunda-feira, com o temor de fatiamento da PEC Emergencial e após a notícia de anulação da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, esses fatores seguiram ecoando nas mesas de operação, mas houve algum alívio após parlamentares prometerem que o texto da PEC a ser votado em plenário amanhã será o que foi aprovado no Senado na semana passada, considerado positivo para o rating brasileiro pela agência Moody’s por preservar o teto de gastos. Apesar da melhora hoje, também ajudada pelo exterior positivo, com recordes das bolsas em Nova York, a moeda americana seguiu rondando os R$ 5,80 na maior parte do pregão.

O dólar futuro e o à vista operaram em direções divergentes nesta terça-feira, porque o maior ajuste nas cotações na tarde de ontem da notícia do Lula e declarações de Bolsonaro sobre possível desidratação da PEC Emergencial ocorreram após o fechamento do mercado à vista. Por isso, o dólar spot encerrou o dia em alta de 0,33%, a R$ 5,7974, enquanto o dólar futuro para abril caiu 1,28%, cotado em R$ 5,8065.

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A Câmara vota a PEC Emergencial nesta quarta-feira, em dois turnos. O presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), prometeu manter a “ideia base” do texto aprovado pelo Senado. Mais cedo, o relator da PEC Emergencial na Câmara, Daniel Freitas (PSL-SC), afirmou que o texto da PEC a ser votado é o que passou pelo Senado na semana passada, apesar das pressões para mudanças.

Um diretor de Tesouraria destaca que novamente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está atuando como “bombeiro” em Brasília para tentar convencer os deputados a aprovarem o texto sem alteração. Hoje Campos Neto se reuniu com Lira. “O Brasil novamente chegou a flertar com o abismo”, destaca este profissional, relatando que o próprio Bolsonaro estava articulando ontem para retirar medidas da PEC, para favorecer policiais. Para este executivo, foi preciso a Bolsa chegar a cair 4% e o dólar ir a R$ 5,90 para criar um senso de realidade em Brasília. Mas o dólar ainda perto dos R$ 5,80 hoje é uma indicação de que o mercado ainda quer “ver para crer” como será a votação, opina ele.

Para os estrategistas do Goldman Sachs, a decisão de anular as condenações eleva as incertezas sobre a economia e a política brasileira, podendo ter efeitos na atividade econômica, ao levar empresários a adiar gastos, e nos juros. Nome muito competitivo para a eleição de 2022, um ambiente de alta polarização política e dúvidas sobre as políticas econômicas de Bolsonaro até a corrida presidencial do ano que vem pode adicionar “ventos contrários” para a retomada em curso da atividade econômica, comenta o banco americano. Este quadro pode levar o Banco Central elevar os juros de forma mais rápida.