SÃO PAULO (Reuters) – O dólar registrou a maior queda em um mês nesta quarta-feira, ficando abaixo de 5,60 reais ao término de um dia que contou com avaliação de um Banco Central brasileiro mais propenso a levar os juros ainda mais para cima e a confirmação de corte de estímulos pelo BC dos EUA, mas sem sinais de alta em breve das taxas por lá.

O real galgou o melhor desempenho entre as principais divisas globais nesta sessão, amparado pela perspectiva de abertura adicional dos diferenciais de juros a favor da moeda brasileira.

Uma medida desse retorno em um ano se aproximou de 11,8% ao ano nesta quarta (de 2% em janeiro), nos picos desde a virada de outubro para novembro de 2016, quando a taxa básica de juros da economia (Selic) estava em 14%. Atualmente, o juro está em 7,75%.

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O imbróglio em Brasília sobre a votação da PEC dos Precatórios seguiu no radar, mas dividiu atenções com notícias da política monetária aqui e lá fora.

O dólar à vista fechou em baixa de 1,45%, a 5,5891 reais, queda mais intensa desde 1º de outubro (-1,47%).

O câmbio demorou um pouco a reagir à ata mais dura do Comitê de Política Monetária (Copom). O JPMorgan entendeu que o colegiado deixou a porta aberta para um acréscimo de mais de 1,50 ponto percentual nos juros na próxima reunião do colegiado, a depender do desfecho de negociações fiscais e de seu impacto sobre a inflação.

Na máxima do dia, alcançada pela manhã, o dólar subiu 0,53%, a 5,701 reais.

A partir das 11h, porém, vendas começaram a aparecer. Profissionais do mercado associaram o movimento a uma realização de lucros, depois da escalada recente da divisa e com notícias diversas de Brasília –envolvendo leilões do Tesouro Nacional ou relacionadas à votação da PEC dos Precatórios.

Eis que às 15h ocorreu o evento mais aguardado da quarta-feira –a decisão de política monetária nos Estados Unidos, em que o Federal Reserve (BC norte-americano) confirmou expectativas de corte de estímulos, mas afastou quaisquer especulações acerca de aumentos de juros em 2022, conforme precificado nas curvas de taxa nos EUA.

Foi a combinação entre um BCB visto como mais rígido e um “taper dovish” pelo Fed (redução de estímulos, mas com destaque a pontos contrários a aperto nos juros) que derrubou o dólar por aqui, movimento acelerado por embolso de lucros após valorização nominal de quase 10% da moeda entre o começo de setembro e 1º de novembro.

“O discurso mais duro do BCB na ata do Copom de hoje foi visto como mais realista pelo mercado. Assim, estamos vendo forte ‘flattening’ (achatamento) da curva (de juros), com queda das taxas longas. Acho que este é um passo importante para dar confiança ao mercado local”, comentou Dan Kawa, diretor de investimentos e sócio da TAG Investimentos.

Na mínima, o dólar desceu a 5,5776 reais, queda de 1,65%.

Lá fora, a moeda norte-americana caía 0,28% no fim da tarde ante uma cesta com rivais de países ricos.