Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O mercado de câmbio começou a semana sob forte estresse, com o dólar à vista fechando na maior alta percentual diária desde o começo de maio e no maior patamar em um mês, acima de 5,11 reais, catapultado por uma onda global de aversão a risco devido a receios sobre inflação, recessão e alta agressiva dos juros mundo afora.

O dólar negociado no mercado interbancário subiu 2,46% nesta segunda-feira, a 5,112 reais na venda. É o valor mais elevado desde 12 de maio (5,1424 reais) e a alta percentual mais forte desde 2 de maio (2,58%).

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Na máxima do dia, a cotação saltou 3,00%, a 5,1388 reais. O real teve um dos piores desempenhos globais na sessão.

Uma combinação entre forte aumento das expectativas de altas de juros nos EUA –após dados de inflação no país divulgados no fim da semana passada– e renovados temores de bloqueios na China contra a Covid-19 deteriorou o sentimento de investidores. Isso numa semana em que o banco central norte-americano vai anunciar provável nova elevação dos custos dos empréstimos –com algumas casas apostando em incremento de 0,75 ponto percentual, acima da taxa de consenso de 0,50 ponto.

Ao mesmo tempo, expectativas convergem para aperto monetário na zona do euro no próximo mês, e já há quem fale que o BC da Suíça –país em que a inflação demorou para mostrar as caras– pode ser mais agressivo em sinalização de política monetária a ser dada na próxima quinta-feira.

O Brasil anuncia na quarta sua decisão de juros, com aumento previsto de 0,50 ponto percentual da Selic, que iria a 13,25% ao ano, com visões de que o BC pode deixar a porta aberta para um último ajuste em agosto.

Em pesquisa do banco digital modalmais, a Skade Capital avalia que o Bacen tem se mostrado mais “hawkish” (inclinado a aumentos de juros) do que o Fed, o que pode contribuir para manter o elevado diferencial de juro a favor do Brasil e, assim, estabilizar a taxa de câmbio. “No entanto, alta de juros é uma variável negativa para as bolsas nos EUA”, lembraram.

O índice S&P 500, referência para os mercados acionários norte-americanos, despencou 3,88% nesta segunda-feira e confirmou a entrada no que é conhecido como “mercado em baixa” –queda de mais de 20% ante recorde anterior e fenômeno visto como sinalizador de novos declínios. Fortes quedas nos mercados de ações pioram a aversão a risco, o que tende a contaminar os negócios com moedas.

Em revisão de cenário divulgada mais cedo, o Itaú Unibanco manteve estimativas de taxa de câmbio mais depreciada em relação ao patamar atual, com previsão de dólar em 5,25 reais ao fim de 2022 e em 5,50 reais no término de 2023.

“Atuam na direção de uma moeda mais depreciada a desaceleração doméstica no 2º semestre do ano, as incertezas ainda presentes sobre o crescimento global e as dúvidas relacionadas à evolução das contas públicas e à sustentabilidade fiscal brasileira nos próximos anos”, disse a equipe de pesquisa econômica do banco, chefiada pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita.

Com o forte ganho desta segunda, o dólar à vista encerrou acima de sua média móvel linear de 100 dias pela primeira vez desde janeiro –evento tido como prenúncio de mais altas para a moeda.

O dólar engatou ainda o sexto pregão consecutivo de aumento, período em que acumulou apreciação de 7,00%. É a mais longa série de altas diárias desde 30 de setembro de 2021, quando a divisa contabilizou a última de uma sequência de sete valorizações.

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