O dólar engatou nesta quarta-feira, 27, a sexta queda consecutiva, embalada pelo cenário externo, com os mercados acionários mostrando otimismo com as reaberturas das economias, e fatores técnicos, com investidores desmontando posições contra o real no mercado futuro. Uma captação externa da Petrobras, de US$ 3,2 bilhões, com forte demanda e a primeira de uma empresa brasileira desde o final de fevereiro, também contribuiu para retirar pressão do câmbio, ajudando o real a se descolar de outras moedas emergentes, que acabaram caindo ante a divisa americana hoje. Em maio, o dólar, que chegou a acumular alta de mais de 4%, agora cai 2,94%.

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No mercado à vista, o dólar fechou em queda de 1,47%, cotado em R$ 5,2790 – o menor valor desde 17 de abril. No mercado futuro, o dólar para junho era negociado em baixa de 1,31%, a R$ 5,2850 no mesmo horário do fechamento do mercado comercial.

“A situação política no Brasil melhorou um pouco desde a última semana, em particular em relação a um possível impeachment de Jair Bolsonaro”, avalia a analista de moedas do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. “Além disso, apoiado por um ambiente externo mais positivo, o real foi capaz de notavelmente se recuperar ante o dólar.”

Apesar da valorização do real, a analista do Commerzbank alerta para que se evite “otimismo prematuro”. A situação política do Brasil permanece “frágil” e o coronavírus segue se disseminando rapidamente pelo País, o que por sua vez pode respingar no lado político, em meio a diferentes visões sobre como lidar com a pandemia. Hoje o noticiário político seguiu intenso, com a investigação do inquérito das fake news chegando perto de empresários próximos a Jair Bolsonaro, mas no mercado de câmbio foi apenas monitorado, sem efeito nos negócios.

“O câmbio estava completamente fora do lugar”, afirma o sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central. O real e outros ativos brasileiros passaram a refletir um prêmio de risco muito elevado, influenciado pelo aumento do “barulho político”.

Com a arrefecida nos últimos dias da piora política, Figueiredo observa que o dólar voltou e o Ibovespa avançou. Para ele, a forma como tem sido conduzida pelo governo a pandemia do coronavírus no Brasil ajuda a piorar a imagem do Brasil no exterior. Mas na prática, o Brasil está indo melhor que países europeus, com menos casos por milhão de habitantes. “A percepção do Brasil lá fora é a pior possível.” Um dos reflexos dessa percepção ruim é que a saída de recursos do Brasil prossegue. O fluxo cambial ficou positivo em US$ 2,466 bilhões em maio até o dia 22, de acordo com dados divulgados hoje pelo Banco Central. Porém, pelo canal financeiro houve saídas líquidas de US$ 399 milhões no período. No ano, a fuga de recursos por este canal soma US$ 32,9 bilhões.