Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar avançou frente ao real pela quinta sessão consecutiva nesta quarta-feira e marcou uma nova máxima para encerramento desde o fim de janeiro, estendendo um rali alimentado por temores internacionais de recessão e crescentes incertezas fiscais domésticas.

A moeda norte-americana à vista avançou 0,63%, a 5,4231 reais, maior valor para um fechamento de sessão desde 27 de janeiro (5,4247 reais). A série de cinco ganhos diários seguidos, em que o dólar acumulou salto de 4,47%, é a mais longa desde uma sequência de sete pregões de alta encerrada em 14 de junho.

+Viagens de brasileiros para o exterior caíram 80% entre 2019 e 2021

Na B3, às 17:33 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,57%, a 5,4590 reais.

Apesar da valorização desta quarta-feira, o dólar fechou longe dos maiores patamares do dia –quando chegou a saltar 1,37%, a 5,4633 reais–, acompanhando alguma melhora no desempenho de ativos de risco globais, como as ações norte-americanas [.NPT], após a divulgação da ata da última reunião de política monetária do banco central norte-americano, o Federal Reserve.

No documento, o Fed reafirmou o tom determinado no combate à alta dos preços, mas “sem grandes novidades”, avaliou em postagem no Twitter Arthur Mota, da equipe de estratégia e macro do BTG Pactual, que disse ainda esperar “ambiente de dólar global forte”. O índice da moeda norte-americana contra uma cesta de pares fortes renovou picos em duas décadas nesta sessão.

No mês passado, os juros norte-americanos foram elevados no ritmo mais intenso desde 1994, em 0,75 ponto percentual, com as autoridades do Fed passando a priorizar a redução da inflação em vez da atividade econômica. Isso tem alimentado temores generalizados de uma recessão, já que taxas mais altas costumam frear os gastos de empresas e famílias.

“Nossos estrategistas globais e de mercados emergentes veem o sentimento em níveis extremos de pessimismo, mas não esperam que o mercado se recupere”, disseram estrategistas do Bank of America em relatório desta quarta-feira.

“Esperávamos juros mais altos globalmente, mas outros choques foram maiores do que esperávamos. Em particular, um lockdown na China intensificou os gargalos na cadeia de suprimentos global, aumentando as pressões inflacionárias de forma geral”, acrescentaram, citando impacto nos termos de troca do Brasil, que chegaram a ser beneficiados neste ano diante de disparada internacional nos valores das commodities.

Estrategistas do Citi disseram em apresentação nesta quarta-feira que o exterior menos benigno deve manter a moeda brasileira depreciada em termos históricos, o que também reflete cenário doméstico incerto do ponto de vista político-fiscal, em meio à atual tramitação de medidas de ampliação e criação de benefícios sociais no Congresso brasileiro.

“Um dos resquícios da pandemia e da eleição presidencial de 2022 serão os gastos maiores. A quantidade de alterações já feitas mostra que o teto de gastos é, do ponto de vista político, insustentável”, alertou o Citi.

Sinal da pior percepção sobre o cenário local, um indicador do risco-país comumente acompanhado fechou a terça-feira numa nova máxima desde o fim de maio de 2020, a 298,13 pontos-base, e seguiu perto desses níveis nesta quarta, depois de ter chegado a cair para perto de 200 pontos no início de abril.

Agora, basta valorização de 2,77% em relação aos níveis atuais para que o dólar zere suas perdas contra o real no acumulado de 2022. A divisa norte-americana registrou em junho seu melhor mês contra o real desde março de 2020 e saltou quase 10% no segundo trimestre deste ano.

(Edição de José de Castro)

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEI65116-BASEIMAGE