Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em leve declínio nesta sexta-feira, suficiente para manter a moeda abaixo da marca psicológica de 4,80 reais, num dia sem direção comum nas praças cambiais do exterior após dados fortes de emprego nos EUA endossarem expectativas de mais altas de juros na maior economia do mundo.

O dólar à vista caiu 0,18%, a 4,7776 reais na venda.

Ibovespa fecha em queda com dados dos EUA e tem perda semanal

A divulgação de números de emprego nos Estados Unidos monopolizou as atenções do mercado nesta sessão. O relatório mostrou que a economia norte-americana adicionou 390 mil postos em maio, com a taxa de desocupação se mantendo em 3,6% pelo terceiro mês consecutivo.

Os dados vieram mais fortes do que a maioria das estimativas dos analistas e foram lidos como passe livre para o Fed seguir a elevar as taxas de juros no atual e historicamente alto ritmo de 0,50 ponto percentual.

O índice do dólar contra uma cesta de rivais de países desenvolvidos subia 0,4% no fim da tarde, ensaiando ganho de 0,5% no acumulado de uma semana marcada pelo retorno de temores acerca da inflação e dos efeitos de altas de juros sobre a economia global.

Logo após a divulgação do “payroll”, o dólar bateu a máxima da sessão, de 4,8325 reais, alta de 0,97%. Nesse ponto a cotação foi a picos em mais de uma semana e ameaçou sua média móvel linear de 50 dias –que, contudo, não foi rompida, movimento lido como sinal de esgotamento da pressão compradora.

Os vendedores então apareceram e recolocaram a divisa abaixo dos 4,80 reais, patamar considerado resistência técnica.

Ainda assim, o dólar fechou a semana em alta de 0,83%, após três semanas consecutivas de queda nas quais acumulou baixa de 6,60%.

Além dos eventos externos, o mercado de câmbio reagiu nos últimos dias a um noticiário doméstico mais ruidoso, que trouxe de volta especulações sobre novo decreto de calamidade pública. Uma reedição desobrigaria o governo de cumprir metas fiscais, por exemplo, num contexto de medidas para forçar queda de impostos (como o ICMS) conforme o governo do presidente Jair Bolsonaro enfrenta uma inflação de dois dígitos e alta de juros em ano eleitoral.

“O efeito do projeto de queda eleitoreira do ICMS equivale a toda a reforma da Previdência. E ainda vamos ter mais… Quem criou a narrativa de que há excesso de arrecadação?”, comentou no Twitter o economista-chefe da Verde Asset Management, Daniel Leichsenring.

Nos três primeiros dias de junho, a moeda dos EUA tem alta somada de 0,49%. Em 2022, o dólar ainda recua 14,28%.

Na próxima semana, os mercados devem monitorar os números da inflação ao consumidor no Brasil, medida pelo IPCA, de maio, além da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e dados de preços nos Estados Unidos e na China.

(Edição de Bernardo Caram)

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