Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançava acentuadamente nesta terça-feira, chegando a superar os 5,39 reais nos maiores patamares do dia diante de disparada internacional da moeda norte-americana, com investidores do mundo inteiro fugindo para ativos seguros em meio a temores generalizados de recessão.

Enquanto isso, no Brasil, persistia a cautela sobre a saúde fiscal do país.

Às 10:34 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,18%, a 5,3876 reais na venda. A moeda norte-americana chegou a saltar 1,31% mais cedo, a 5,3950 reais, nível que, se mantido até o fim das negociações, corresponderia a uma máxima para encerramento desde 27 de janeiro (5,4247).

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Na B3, às 10:34 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,00%, a 5,4265 reais.

“Investidores (estão) voltando a se preocupar com a possibilidade de uma recessão na economia global, e, no mercado internacional de câmbio, o dólar assume o modo vencedor”, comentou Jefferson Rugik, presidente executivo da Correparti Corretora.

Às 10:34 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 1,35%, a 106,540, renovando máximas em duas décadas.

O euro, principal componente dessa cesta, despencava mais de 1% nesta sessão, tocando os níveis mais baixos desde 2002 depois que uma greve de trabalhadores noruegueses de petróleo e gás elevou a perspectiva de uma crise energética na Europa, cenário que, se concretizado, elevaria as chances de recessão por lá.

Sinal da forte aversão a risco global, os rendimentos dos títulos soberanos de dez anos dos Estados Unidos estendiam perdas recentes nesta terça-feira, conforme crescia a demanda pela segurança da renda fixa.

A diferença entre os rendimentos dos Treasuries de dez e dois anos se inverteu pela primeira vez desde meados do mês passado neste pregão, fenômeno que é visto por muitos como indicador confiável de que uma recessão se seguirá dentro de um ou dois anos.

O nervosismo de investidores sobre a atividade global ganhou força desde que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, endureceu sua postura de política monetária e subiu os juros no ritmo mais acentuado em quase 30 anos no mês passado, em 0,75 ponto percentual.

Além de frear os gastos das empresas e das famílias, taxas de empréstimo mais altas nos EUA tornam os títulos norte-americanos “cada vez mais atraentes e estimulam a busca por esse tipo de ativo, elevando o valor da moeda dos EUA”, disse a XP em relatório.

Exacerbam esses riscos as recentes discussões no Brasil sobre corte de impostos e aumentos de gastos, avaliou a instituição financeira. “Riscos de desequilíbrio fiscal aumentaram por aqui, trazendo uma pressão adicional ao real e contribuindo para ‘descolamento’ da nossa moeda”, cujo desempenho tem sido expressivamente pior que o de pares emergentes nas últimas semanas, completou a XP.

A tramitação da PEC dos Benefícios –também chamada de “PEC Kamikaze” por críticos por ser fiscalmente danosa e ter possível impacto inflacionário de longo prazo– no Congresso deve seguir no foco de investidores locais. A proposta, aprovada pelo Senado na semana passada, prevê a ampliação e a criação de novos benefícios sociais.

O dólar saltou quase 10% no acumulado do segundo trimestre e marcou em junho seu melhor desempenho mensal frente ao real desde março de 2020 –quando os mercados sentiram o choque inicial da pandemia de Covid-19. A moeda norte-americana ainda acumula baixa neste ano, de cerca de 3,5%, mas está quase 17% acima da mínima para encerramento de 2022, de 4,6075, atingida no início de abril.

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