Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar abandonou perdas iniciais e passava a subir nesta sexta-feira, chegando a superar os 5,27 reais ao longo da manhã, a caminho de marcar uma quarta semana consecutiva de ganhos, depois que temores de que juros mais altos nas principais economias levem a uma recessão abalaram o sentimento global, cenário agravado por receios políticos e fiscais domésticos.

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Às 11:10 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,22%, a 5,2404 reais na venda.

No pico da manhã, a moeda norte-americana saltou 0,92%, a 5,2770 reais na venda. Caso mantivesse esse nível até o fim das negociações, o dólar registraria seu maior patamar de encerramento desde 4 de fevereiro (5,3249) e fecharia acima de sua média móvel linear de 200 dias –marca técnica importante atualmente em torno de 5,25 reais– pela primeira vez desde janeiro deste ano.

Na B3, às 11:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,04%, a 5,2505 reais.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, chamou a atenção para um cenário global que tem se mostrado adverso para ativos de risco, como ações e divisas de países emergentes, nas últimas semanas.

O pessimismo cresceu desde que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, endureceu sua postura de política monetária e subiu os juros norte-americanos no maior ritmo desde 1994 neste mês, sinalizando mais por vir. Taxas de empréstimo altas tendem a restringir a atividade econômica, efeito que, no contexto atual, poderia ser exacerbado por desafios como a guerra na Ucrânia e sinais de desaceleração na China.

Em meio ao cenário internacional adverso, o dólar caminha para sua quarta semana consecutiva de valorização frente ao real, período em que acumula alta de mais de 10%. A divisa fechou a última sessão em 5,2291 reais, máxima para encerramento desde 11 de fevereiro deste ano (5,2428), subindo por 11 dos últimos 13 dias completos de negociação.

“O movimento global foi preponderante na relação de moedas”, disse Sanchez sobre a recente valorização do dólar, “mas a dinâmica política que a gente vem observando no Brasil –seja política fiscal, ou pública, ou econômica, ou eleitoral– também não é muito positiva”.

Investidores têm mostrado forte preocupação com a discussão de medidas do governo para compensar a alta dos preços dos combustíveis, que, por arriscarem levar a uma redução de receitas tributárias ou a um aumento de gastos fora da regra do teto, poderiam agravar a credibilidade fiscal do Brasil.

Na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro, sancionou, com vetos, projeto que estabelece um teto para as alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo. Outras medidas atualmente sendo discutidas para aliviar os efeitos da inflação são elevação do Auxílio Brasil, aumento no valor do vale-gás a famílias e criação de uma espécie de voucher para caminhoneiros.

Sanchez vê espaço para desvalorização do dólar ante os patamares atuais, projetando a moeda em 5,05 reais ao fim deste ano, “mas isso não quer dizer que vamos ter um caminho suave até lá, principalmente considerando as eleições presidenciais de outubro”, afirmou o economista.

“O que eu posso garantir é que vamos ter forte volatilidade.”

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