Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar passava subir contra o real nesta quarta-feira, com comentários do presidente Jair Bolsonaro sobre ICMS ofuscando dados de inflação norte-americanos amplamente dentro das expectativas dos mercados.

O governo federal está estudando a elaboração de uma proposta que proíba os Estados a cobrarem ICMS sobre a bandeira tarifária da conta de luz, disse Bolsonaro nesta quarta-feira durante cerimônia de assinatura de medida provisória que permite a venda direta de etanol para postos de combustíveis, voltando a dizer que a população precisa saber quem são os responsáveis pela elevação dos preços.

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Às 12:06, após a notícia, o dólar avançava 0,40%, a 5,2167 reais na venda, e chegou a tocar 5,2354 reais na máxima do pregão. O principal contrato de dólar futuro ganhava 0,63%, a 5,237 reais.

Segundo Alexandre Netto, head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, esse comportamento refletia, em parte, os comentários de Bolsonaro, bem como um fluxo estrangeiro de compra de dólares.

Mais cedo, a moeda chegou a apresentar queda, em movimento desencadeado pela notícia de que o aumento dos preços ao consumidor nos Estados Unidos desacelerou em julho. Na mínima do dia, alcançada pouco antes das 10h50, o dólar caiu 0,61%, a 5,1642 reais na venda.

O Departamento do Trabalho dos EUA informou nesta quarta-feira que o índice de preços ao consumidor subiu 0,5% no mês passado, após alta de 0,9% em junho, atendendo às expectativas de economistas em pesquisa da Reuters.

“O número não surtiu efeito negativo (sobre o mercado de câmbio), o que teria acontecido caso viesse acima do esperado”, disse Lucas Carvalho analista da Toro Investimentos, ressaltando que uma inflação mais intensa do que as projeções aprofundaria receios sobre redução de estímulos nos Estados Unidos.

Recentemente, dados de emprego mais fortes do que o esperado sinalizaram que o mercado de trabalho pode estar perto de atender às condições que o Federal Reserve estabeleceu para cortar suas compras de títulos. Isso não significaria, necessariamente, alta de juros, explicou Carlos Duarte, da Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, mas a redução da oferta de liquidez tenderia a prejudicar moedas mais arriscadas, como o real.

Por outro lado, disse ele, o ciclo mais agressivo de aperto de juros pelo Banco Central doméstico tende a oferecer apoio à divisa brasileira.

Uma preocupação no ambiente local, afirmou Duarte, é a política fiscal. Sob os holofotes está o esforço recente do governo para alterar a dinâmica do pagamento de precatórios diante das limitações do teto de gastos, que “cheira como pedalada fiscal” para os investidores estrangeiros, explicou.

Na véspera, a moeda norte-americana spot caiu 0,96%, a 5,1957 reais na venda, desvalorização mais intensa desde 28 de julho (-1,26%).

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