Após volatilidade nos negócios da manhã, o dólar firmou-se em alta à tarde. Operadores destacam que tesourarias e grandes investidores aceleraram as compras da moeda americana na reta final dos negócios, em busca de proteção por causa do feriado nesta sexta-feira nos Estados Unidos, que deve deixar o mercado sem liquidez. Há o temor do que Donald Trump possa falar sobre a China nos eventos da independência dos EUA e também de como vai se comportar o crescimento dos casos de coronavírus. No mercado à vista, o dólar fechou com valorização de 0,55%, cotado em R$ 5,3472. No segmento futuro, o dólar para agora era negociado em R$ 5,3525 às 17h, com ganho de 0,53%.

Mais cedo, o dólar chegou a cair com indicadores bons da economia americana, principalmente o relatório de emprego (conhecido como payroll) de junho, que veio acima do previsto. Na mínima do dia, caiu a R$ 5,2669 no mercado à vista. Mas o crescimento de casos de coronavírus nos EUA limitou um pouco a euforia, embora as bolsas tenham fechado com ganhos em Nova York.

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O chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, destaca que há o risco de, no feriado de independência americano, Trump fazer mais declarações contra a China. Hoje, o Senado aprovou sanções à Pequim por Hong Kong e a lei vai agora para a assinatura de Trump. O governo chinês prometeu retaliar. Internamente, disse Nagem, hoje não houve fatores que influenciaram os preços.

Há ainda preocupações com a continuidade do crescimento de casos de coronavírus nos EUA. O economista-chefe do banco Wells Fargo, Jay H. Bryson, observa que a expansão descontrolada de infecções em alguns estados americanos – que passaram a adiar a retomada dos negócios ou retroceder nos planos de reabertura – deve limitar a melhora do mercado de trabalho pela frente. Em junho, a taxa de desemprego caiu para 11,1% e foram criadas 4,8 milhões de vagas, enquanto se previa 3,7 milhões. “São números fortes, mas a dúvida é se esse movimento vai durar”, escreve Bryson, em relatório.

Os estrategistas do Crédit Agricole destacam nesta quinta-feira que a volatilidade das moedas emergentes tem se mantido acima do padrão de longo prazo e pode seguir alta. Algumas divisas desses países parecem atrativas, pois tiveram forte desvalorização e ficaram baratas. Mas no caso do real, das moedas de Turquia, África do Sul, Indonésia e Índia, e mesmo o peso mexicano, o cenário é mais complicado.

São nações, como no caso do Brasil, que tiveram forte deterioração fiscal, ou ainda que tiveram piora das contas externas, casos sul-africano e turco. Por isso, essas moedas podem ser mais penalizadas em casos de movimentos de fuga de ativos de risco. Para o Brasil, o Crédit Agricole projeta o dólar a R$ 5,45 no final do ano e a R$ 5,00 no final de 2021. Com recessão, piora fiscal, casos de coronavírus em alta e juros muito baixos, a atratividade dos ativos para investidores estrangeiros fica comprometida.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em live nesta tarde que a percepção de risco aumentou muito para emergentes e países desenvolvidos. Mas enquanto para estes últimos houve melhora, os emergentes estão mais fragilizados, com saída forte de recursos.