Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar oscilava entre estabilidade e leve alta contra o real nesta terça-feira, com a recuperação da moeda norte-americana no exterior compensando a notícia de que o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou a possibilidade de acelerar a alta dos juros em sua reunião da semana passada.

Às 10:26, o dólar avançava 0,16%, a 5,0304 reais na venda, enquanto o principal contrato de dólar futuro ganhava 0,33%, a 5,034 reais.

Mais cedo, na máxima do pregão, o dólar à vista chegou a tocar 5,0460 reais na venda, alta de 0,47%.

“Essa não foi uma queda isolada do real; o dólar está ganhando força ao redor do mundo”, disse à Reuters Thomas Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.

O índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais fortes subia aproximadamente 0,2% nesta segunda-feira, recuperando-se após registrar queda acentuada na véspera. Rand sul-africano e peso mexicano, duas divisas cujo movimento o real tende a acompanhar, registravam perdas expressivas.

Dominando o radar dos investidores internacionais, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, participará de uma audiência ao Congresso norte-americano, e pode oferecer mais orientações sobre a recente mudança surpresa nas perspectivas de política monetária do banco central.

“De Powell, o mercado que tentar ouvir mais sinais do ‘início do fim’ do ciclo extremamente estimulativo em que nos encontramos”, disse em nota Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. “(…) É nos discursos que os analistas decifram os sinais se o Fed está realmente disposto a alterar sua política.”

O dólar já ganhou bastante terreno contra as principais moedas desde que o Fed sinalizou na semana passada aumentos de juros mais cedo do que o esperado, uma vez que os custos dos empréstimos mais elevados nos Estados Unidos tendem a atrair capital para o país.

No Brasil, a política monetária também estava em foco após a divulgação da ata da última reunião do Copom, que fornecia algum apoio ao real. O Comitê avaliou a possibilidade de acelerar a alta dos juros em sua reunião da semana passada em meio a uma inflação persistente, mas acabou concluindo que seria mais adequado manter o ritmo de aperto de 0,75 ponto percentual.

Ainda assim, indicou um possível aperto maior em seu encontro seguinte, em agosto. [nL2N2O40T4]

Thomás Gibertoni explicou que a percepção de um BC mais “hawkish”, ou duro com a inflação, tem favorecido a moeda brasileira recentemente, devido à expectativa de juros mais altos.

Segundo especialistas, isso se deve principalmente à entrada de recursos no Brasil para a realização estratégias de “carry trade”, que consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo e compra de contratos futuros de uma divisa de juro maior, como o real. O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.

Com uma Selic mais alta à frente, o cenário doméstico ainda está inclinado para uma desvalorização do dólar em relação ao real, afirmou Gibertoni.

Além da política monetária, os agentes do mercado ficavam de olho nas discussões em torno de mais gastos com programas de assistência social, como o Bolsa Família, em busca de qualquer sinal de que o teto de gastos possa ser desrespeitado.

“Medidas mais populistas (por parte do governo) poderiam trazer ruídos para o mercado de câmbio”, disse Gibertoni.

Na véspera, o dólar spot teve queda de 0,96%, a 5,0224 reais, nova mínima desde 10 de junho de 2020 (4,9398).

O Banco Central fará nesta sessão leilão de swap tradicional para rolagem de até 15 mil contratos com vencimento em dezembro de 2021 e abril de 2022.

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