O dólar reduziu o ritmo de valorização ante o real nos negócios da tarde, refletindo no mercado doméstico perda de força no exterior. Nesta terça-feira, 8, o peso determinante para os ativos brasileiros foi o mercado internacional, com novo dia de fuga de ativos de risco e correção nas bolsas americanas, contando nesta tarde também com forte queda do petróleo, que superou os 8%. Com a agenda local esvaziada, o real foi a moeda com pior desempenho ante o dólar em uma cesta de 34 moedas, segundo operadores, ainda refletindo o risco de descontrole fiscal do Brasil.

Após superar os R$ 5,40 nos negócios da manhã, o dólar à vista fechou o dia com valorização de 1,77%, cotado em R$ 5,3650. No mercado futuro, o dólar para outubro subia 1,21%, em R$ 5,3680 às 17 horas.

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O diretor de moedas em Nova York da gestora BK Asset Management, Boris Schlossberg, observa que a piora da tensão entre Estados Unidos e China provocou forte movimento de aversão ao risco nesta terça, fortalecendo o dólar de forma generalizada. A deterioração da já complicada relação entre as duas maiores economias do mundo veio após Donald Trump sugerir no domingo que o país não faça mais negócios com Pequim, em suas próprias palavras, um “descolamento”.

A leitura dos investidores, ressalta Schlossberg, é que o setor de tecnologia seria o mais afetado no cenário traçado por Trump. Por isso, as gigantes do setor, que dispararam nas últimas semanas, lideraram as quedas nesta terça.

Para ajudar a fortalecer o dólar, o executivo observa que a libra teve novo dia de enfraquecimento, após as ameaças do primeiro-ministro Boris Johnson de deixar as negociações do Brexit.

Com a agenda esvaziada de indicadores e eventos mais fraca nos EUA nos próximos dias, ele avalia que o dólar deve seguir influenciado por declarações políticas e eventualmente alguma notícia sobre o covid.

Sobre a questão fiscal do Brasil, os analistas da agência de classificação de risco Moody’s elogiaram as políticas do governo para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia, mas disseram que o custo fiscal foi mais alto que o esperado, com piora sem precedentes dos indicadores. A agência alertou que a dinâmica política traz riscos ao ajuste fiscal e as reformas para estimular o crescimento econômico, podendo ter peso negativo no rating soberano do País.

Já a Fitch Ratings prevê que o dólar vai continuar acima de R$ 5 ao menos até o final do ano que vem, com R$ 5,30 em dezembro agora e R$ 5,00 no fim de 2021. A agência comentou que o Banco Central injetou US$ 20 bilhões somente no mercado à vista para conter a sangria do real. Ao mesmo tempo, alguns indicadores da atividade têm surpreendido positivamente e a previsão de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foi revisto de queda de 7% para baixa de 5,8%.