O dólar subiu 5,5% ante o real em janeiro, a maior alta desde março do ano passado, quando a pandemia começou no País e a divisa dos Estados Unidos disparou 16%. A moeda brasileira teve o pior desempenho no mercado internacional neste mês, com a deteriorada situação fiscal do Brasil impedindo recuo maior do dólar, mesmo com fluxo externo forte.

Em outros emergentes, a moeda norte-americana teve valorização menos intensa, subindo 4,5% na Colômbia, 3,1% na África do Sul e 2,5% no México. Na Turquia, caiu 1,8%.

Nesta sexta-feira, 29. houve novo dia de alta, em meio a preocupações com as eleições no Congresso na segunda, possível greve dos caminhoneiros e um ambiente externo avesso ao risco, por conta de temores sobre o alcance dos movimentos especulativos com ações em Nova York, com gestores falando até de ameaça à estabilidade financeira.

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Além disso, foi dia de definição do referencial Ptax, usado em contratos cambiais e balanços. O dólar à vista terminou em alta de 0,71%, a R$ 5,4745. O dólar para março, que nesta sexta passou a ser o contrato mais líquido, subiu 0,38%, a R$ 5,4660.

“Os riscos para a piora do cenário no Brasil estão crescendo”, avalia o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson. Ele comenta sobre a chance de greve dos caminhoneiros, marcada para a segunda-feira, dia 1º, e a possibilidade de o governo fazer concessões ao setor, para evitar o estrago provocado pela greve de maio de 2018. Ou seja, novo risco para as contas fiscais, que acabaram tendo rombo menor que o esperado em 2020, mas seguem piores que os emergentes.

Além disso, Jackson destaca que há também no dia 1º de fevereiro a eleição para os comandos da Câmara e do Senado, com os candidatos apoiados pelo Planalto com clara chance de vitória. A dúvida é como vão andar as reformas em seguida e se haverá prorrogação do auxílio emergencial. A Capital Economics projeta que o dólar vai seguir forte no Brasil, mesmo com tendência de queda no exterior. Para o fim do ano, a estimativa é que a moeda americana fique em R$ 5,50. Ao fim de 2022, vá a R$ 5,75.

Os economistas do Bradesco também veem o real mais enfraquecido, sobretudo neste começo de 2021. “Diante da perspectiva de menor crescimento e das incertezas fiscais, o real deve se manter pressionado neste início de ano”, afirma relatório do banco.

O Bradesco cortou a previsão de crescimento da economia brasileira este ano de 3,9% para 3,6%, por conta do avanço da pandemia. “Enquanto não for descartada a hipótese de um estímulo fiscal amplo em 2021, a moeda tende a se manter bastante descolada dos pares.”

Por ora, o Bradesco ainda vê o governo respeitando o teto e adoção de novos estímulos fiscais, se houver, será em nível menor que 2020 e também por prazo mais curto. Com isso, manteve a previsão de dólar a R$ 5,00 ao final do ano.