Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – A tentativa de uma sequência do alívio da véspera sucumbiu na tarde desta sexta-feira a renovada pressão compradora, e o dólar fechou em alta e perto de 5,27 reais, ao fim de uma semana marcada pela mudança para pior no patamar de risco político-institucional no Brasil.

O mercado operou mais na defensiva na parte da tarde para não ficar descoberto no fim de semana, quando podem ser publicadas novas manchetes com potencial de sacudir os preços dos ativos nos dias seguintes.

+ Dólar fecha em alta de 0,77%, a R$5,2679

A demanda por dólar aqui ganhou tração também por causa do exterior, onde a moeda norte-americana escalou a máximas do dia no fim da tarde. Do lado técnico, a moeda aqui se manteve acima de suas médias móveis de 50 e 100 dias, mesmo com o alívio da véspera, e tal movimento é visto como indicação de mais alta.

De acordo com estrategistas do Morgan Stanley, o dólar no Brasil está em “bull market” (tendência de alta) nas medidas diárias e mensais. Na semana, a moeda estaria em “bear market” (tendência de baixa).

O dólar à vista fechou esta sexta em alta de 0,77%, a 5,2679 reais na venda. Na máxima, batida já perto do fim da jornada, foi a 5,272 reais, ganho de 0,85%. O real encerrou o dia com o pior desempenho entre as principais divisas globais.

Na semana, a moeda dos EUA acumulou ganho de 1,62%, aumentando a apreciação em setembro para 1,85%. Em 2021, a cotação sobe 1,47%.

Ainda no começo dos negócios desta sexta, o dólar chegou a cair 1,13%, a 5,1686 reais, depois de na véspera recuar 1,80%, maior queda percentual diária desde agosto.

O câmbio começou esta sessão com ares de que continuaria o movimento do fim da quinta, quando o dólar despencou após a divulgação de carta à nação pelo presidente Jair Bolsonaro, lida como um aceno aos demais Poderes depois de agudo tensionamento sobretudo no 7 de Setembro.

Mas, como já previsto ainda na quinta, o otimismo se dissipou.

“Fogo de palha”, disse um operador, resumindo sua percepção sobre a mudança de chave mostrada por Bolsonaro. Nesta sexta, o presidente disse a apoiadores que “a gente está ganhando” e defendeu a carta divulgada.

“Bolsonaro ajustou o tom, mas isso não é suficiente”, disse Lucas Schroeder, diretor de operações da Câmbio Curitiba. “Houve uma trégua, mas ele voltou a dar indícios de que pode não ser perpétua. E ele precisa dos (demais) Poderes para dar continuidade às reformas”, acrescentou.

Um dos pontos de maior preocupação do mercado é sobre o rumo da conta de quase 90 bilhões de reais em precatórios em 2022. O STF vinha estudando uma solução bem-vista pelo mercado, mas depois dos ataques diretos de Bolsonaro a ministros da Corte a expectativa do mercado de algum progresso nessa frente mingou.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou tranquilizar agentes financeiros acerca do assunto. Segundo Guedes, as conversas com o STF e os presidentes da Câmara e do Senado serão retomadas a partir de segunda-feira para resolver o problema dos precatórios.

Um pagamento integral dessa conta no ano que vem ameaçaria o teto de gastos, tido pelo mercado como o bastião das contas públicas no Brasil.

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