A quarta-feira apresentou renovadas tensões nos mercados emergentes à medida que o dólar continuou a mostrar valorização. O peso argentino novamente foi o destaque negativo depois que a moeda dos Estados Unidos saltou 8% em relação à divisa sul-americana, obrigando o governo de Maurício Macri a fazer novas ligações ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Outras divisas emergentes sucumbiram à força do dólar, que não apresentou direção única em relação a outras moedas principais, que mantiveram no radar o Brexit e a questão orçamentária da Itália.

Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar subia para 111,70 ienes, o euro avançava para US$ 1,1705 e a libra saltava para US$ 1,3023. Já o índice DXY, que mede a moeda americana contra uma cesta de seis moedas principais fechou em queda de 0,13%, para 94,600 pontos.

A Argentina voltou a enfrentar uma “tempestade perfeita” nesta quarta-feira, 29. Logo no início do dia, o presidente do país anunciou que entrou em contato com o FMI para adiantar os fundos do pacote de ajuda ao país. “Temos tido, nas últimas semanas, mostras da falta de confiança dos mercados”, admitiu Macri em sua breve mensagem. De acordo com ele, diante disso, houve a decisão de adiantar os recebimentos da organização. O anúncio não surtiu efeito e o dólar voltou a subir, obrigando o Banco Central da República da Argentina (BCRA) a oferecer US$ 300 milhões, com o mercado tomando todo o montante. Mesmo assim, no fim da tarde, o dólar saltava 8,03%, para 34,0005 pesos.

“Os participantes do mercado não estão convencidos das medidas tomadas pelo governo e as dúvidas sobre as necessidades de financiamento no próximo ano persistem. Esse desconforto, no entanto, é exacerbado pela falta de comunicação quanto às necessidades e fontes de financiamento”, afirmou a economista Priscila Robledo, da Continuum Economics. Na terça-feira, quando o peso já se mostrava enfraquecido, a agência de classificação de risco Moody’s revelou esperar que o Produto Interno Bruto (PIB) argentino apresente contração de 1% este ano, o que pode se estender para 2019.

Outras moedas emergentes sofreram com o ímpeto altista do dólar. O risco de sanções americanas sobre a África do Sul devido às expropriações de terras como parte da reforma agrária do país pesaram no rand, com o dólar a 14,3976 rands no fim da tarde. O rublo também foi penalizado após os EUA protocolarem na Organização Mundial do Comércio (OMC) uma queixa contra tarifas da Rússia sobre algumas importações americanas. Com isso, o dólar subia para 68,044 rublos.

Investidores também acompanham a trajetória da lira turca, que voltou a perder a briga contra o dólar, mesmo com um anúncio de que o banco central da Turquia irá dobrar o limite de tomada de crédito dos bancos para transações overnight no mercado monetário interbancário, numa tentativa de dar sustentação ao setor bancário do país. Além disso, o rebaixamento da nota de crédito de 20 instituições financeiras turcas pela agência de classificação de risco Moody’s voltou a gerar insegurança e gerou uma saída de ativos turcos. No fim da tarde, a moeda americana avançava para 6,4790 liras turcas.

Em relação a moedas consideradas fortes, o dólar não apresentou direção única. A libra esterlina se viu ajudada por comentários do negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier, que disse estar preparado para oferecer uma parceria ao Reino Unido em meio ao processo de negociação do divórcio.

O euro, por sua vez, apresentou leves ganhos e perdas, não mostrando tendência única ao longo do dia. De acordo com o jornal italiano La Stampa, o governo de Giuseppe Conte pediu ao Banco Central Europeu (BCE) que estenda o programa de compra de ativos, que está previsto para acabar em dezembro. No fim da manhã, porém, o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio, desmentiu os relatos e disse que o governo não está pedindo a ajuda de ninguém, o que deu leve apoio à cotação do euro.

Na avaliação dos estrategistas do banco francês Société Générale, o euro a US$ 1,16 não está precificando os riscos vindos da política italiana. Para isso, a moeda única precisaria ser negociada em torno de US$ 1,14. Para eles, nos níveis atuais, o spread entre os juros do Bund alemão e do BTP de dez anos deveria ficar em torno de 240 pontos-base, em vez dos atuais 277 pontos-base. “A falta de correlação é impressionante e o valor justo do euro é próximo a US$ 1,14.”