A dor para mercados emergentes continuou a não ter fim nesta quarta-feira e, em meio a temores de disseminação dos problemas financeiros da Turquia, o dólar apresentou ganhos firmes em relação a moedas de países em desenvolvimento. O cenário de instabilidade para emergentes voltou a aumentar a demanda pelo iene, que voltou a subir ante a divisa americana, enquanto o euro ensaiou uma recuperação, após as fortes perdas acumuladas desde o início da turbulência cambial envolvendo Ancara.

Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar subia para 110,68 ienes, enquanto o euro avançava, de forma tímida, para US$ 1,1348. A libra, por sua vez, chegou ao fim da tarde em leve queda, para US$ 1,2700. Dado esse pano de fundo, o índice DXY, que mede a moeda americana contra uma cesta de outras seis divisas fortes, fechou em queda de 0,04%, para 96,696 pontos.

Nos mercados emergentes, contudo, o avanço do dólar se deu de forma generalizada, tendo como exceção a lira turca. No fim da tarde, o dólar caía 6,86%, para 5,9136 liras, com o suporte do Catar, que anunciou investimentos diretos de US$ 15 bilhões na Turquia. Além disso, fontes da gigante chinesa Alibaba informaram, via agência Xinhua, a compra de uma fatia da empresa turca de e-commerce Trendyol. Ainda no noticiário envolvendo a Turquia, o país anunciou a elevação de tarifas aduaneiras que afetam produtos americanos, em um total de US$ 533 milhões, como resposta às barreiras impostas pelo governo de Donald Trump ao aço e ao alumínio turcos.

“A volatilidade nos ativos de mercados emergentes não é incomum e não impede o desempenho positivo no médio a longo prazo. Não achamos que a atual situação na Turquia seja um termômetro para o complexo de moedas de países em desenvolvimento, mas a extensão da volatilidade nos ativos turcos provavelmente desafiará o sentimento dos investidores em relação às emergentes no curto prazo”, disseram analistas do Goldman Sachs em nota a clientes.

Tamanha volatilidade foi vista, novamente, na Argentina, onde novas operações do banco central foram necessárias para conter a valorização da moeda americana. No país vizinho, a autoridade monetária fez três leilões, oferecendo US$ 1,6 bilhão, mas colocando efetivamente US$ 781 milhões no mercado. Na máxima do dia, o dólar ultrapassou 30,5 pesos, mas, no fim da tarde, a moeda americana operava a 29,8790 pesos argentinos.

Entre outras emergentes, o dólar subia para 14,5809 rands sul-africanos (+2,06%), para 67,360 rublos russos (+1,40%) e para 6,9472 yuans chineses negociados em Hong Kong (+0,75%). Em alguns momentos, o dólar chegou a ultrapassar 6,95 yuans no mercado offshore, o maior nível desde maio de 2017.

Para os estrategistas do banco sueco SEB, a tendência de sofrimento dos mercados emergentes deve aumentar ainda mais. “A política de Trump continuará a criar incerteza, mas dados firmes dos EUA apoiam nossa previsão de crescimento ainda otimista e aumentos das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed)”, disseram em nota a clientes. Eles também apontaram que outros grandes bancos centrais devem começar a elevar os juros, como o Riksbank, o banco central da Suécia, que deve aumentar as taxas em setembro.

Em relação à economia americana, dados corroboraram a tese de que a economia dos EUA permanece robusta. As vendas no varejo subiram 0,5% na passagem de junho para julho, enquanto analistas previam avanço de apenas 0,1%. A produção industrial, por sua vez, cresceu apenas 0,1%, abaixo do estimado (+0,3%), mas a forte revisão do mês anterior, de alta de 0,6% para subida de 1,0% compensou a expansão menor que o previsto. A produtividade da mão de obra americana também surpreendeu ao subir à taxa anualizada de 2,9%, no ritmo mais rápido em três anos.

Após os dados de hoje, a IHS Markit revisou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) anualizado do terceiro trimestre de 3,2% para 3,3%. O Barclays também elevou a previsão de 3,0% para 3,1%, enquanto o Goldman Sachs manteve a estimativa inalterada em 3,4%.

Já o euro apresentou leve valorização em relação à moeda americana no fim da tarde. “Achamos que o medo de contágio da Turquia para o euro é exagerado. Em vez disso, achamos que as pressões internas provavelmente irão manter a divisa única na defensiva nas próximas semanas, colocando um prêmio nas moedas com superávit em conta corrente, como o iene e o franco suíço”, escreveu, em relatório enviado a clientes, o estrategista Mark McCormick, da TD Securities.