O adiamento da votação da reforma da Previdência no Senado desagradou aos investidores e impediu que o real se beneficiasse do movimento global de enfraquecimento da moeda americana nesta terça-feira. Afora uma queda no início do pregão, quando prevalecia certo otimismo com o andamento das negociações entre Estados Unidos e China, o dólar à vista operou entre estabilidade e leve alta ao longo do dia.

Com mínima de R$ 4,1535 e máxima de R$ 4,1840 – registrada no início da tarde -, o dólar fechou a R$ 4,1692 (-0,05%). O volume negociado foi reduzido tanto no mercado à vista (US$ 1 bilhão) quanto no futuro (US$ 15,3 bilhões) – o que, segundo operadores, mostra a falta de disposição para apostas mais contundentes.

A mínima do dólar se deu na esteira do otimismo provocado por declarações do secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, de que EUA e China retomariam negociações em duas semanas. O clima azedou um pouco em seguida, após o presidente americano, Donald Trump, em seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), defender uma política protecionista e acusar a China de manipulação cambial.

O dólar começou a escalar em relação ao real quando saiu a notícia de que a votação da reforma da Previdência – programada para esta terça na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário no Senado em primeiro turno – foi adiada para a próxima semana. Segundo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a votação em segundo turno será realizada na primeira quinzena de outubro – ou seja, pode se estender para além do dia 10, como previa o calendário fechado com líderes.

O estrategista da Monte Bravo, Rodrigo Franchini, observa que, embora esteja mantida a perspectiva de aprovação da reforma sem grande desidratação, o adiamento provoca certo desconforto e coloca os investidores na defensiva. “O dólar caiu em relação aos emergentes e deveria ser um dia de queda aqui também. Mas essa questão da Previdência trouxe um pouco de aversão ao risco, porque parecia que estava tudo pronto para votar”, afirma Franchini.

Lá fora, o dólar caiu em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, à exceção do peso colombiano e do rublo. O índice DXY – que mede a variação da moeda americana em relação a seis divisas fortes – também recuou. As perdas globais do dólar são atribuídas a dados fracos da economia americana (como a queda do índice de confiança do consumidor em setembro) e à notícia de início de procedimentos no Congresso dos EUA para um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.

Por aqui, a ata do Copom reiterou o tom ‘dovish’ do comunicado da decisão da semana passada e reforçou a expectativa de que haverá nova redução da Selic em 0,50 ponto porcentual em outubro, para 5% ao ano. “A ata confirmou essa expectativa de mais corte da Selic, o que diminui ainda mais o diferencial de juros e acaba tirando força para o real”, afirma Reginaldo Carvalho, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Pela manhã, o BC vendeu a ração diária de US$ 580 milhões com leilão à vista de dólares conjugado com swaps cambiais reversos (11.600) contratos com vencimento em 1º de novembro. Além disso, foi vendida a oferta total de US$ 1,8 bilhão em dois leilões de linha – US$ 1,250 bilhão para recompra em 3 de dezembro e US$ 550 milhões para recompra em 4 de fevereiro.