O mercado de câmbio teve uma sessão volátil nesta terça-feira, 29, mas bem menos tensa que a de ontem, quando o dólar fechou no maior nível em quatro meses e investidores estrangeiros elevaram apostas contra o real em US$ 1,3 bilhão no mercado futuro da B3. À espera dos desdobramentos e detalhes sobre o financiamento do Renda Cidadã, programa que vai substituir o Bolsa Família, e ajudado pela queda da divisa dos Estados Unidos nos emergentes e países exportadores de commodities, antes do primeiro debate presidencial no país, o dólar fechou perto da estabilidade.

No encerramento, a moeda americana teve leve alta de 0,07% no mercado à vista, para R$ 5,6393. No mercado futuro, o dólar para outubro, que vence amanhã, recuava 0,34% às 17h45, cotado em R$ 5,6420.

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“Ainda está tudo muito obscuro sobre o Renda Cidadã. É tudo o que o mercado não precisava neste momento de elevada incerteza”, avalia a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto. Entre as principais dúvidas, ela ressalta que os investidores querem saber qual o impacto fiscal do programa e como fica o efeito nos bancos, que têm muitos precatórios em carteira. “O ideal era que ontem já fosse apresentada a proposta concreta, com os detalhes.”

Na sessão desta terça-feira, como os detalhes não foram explicados, o câmbio não se distanciou do fechamento de ontem. O presidente Jair Bolsonaro disse que vender estatais para financiar o programa é uma possibilidade a ser avaliada, mas a privatização é um processo que leva tempo, ressaltou. Já o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, senador Márcio Bittar (MDB-AC) disse que o governo não vai recuar do uso de precatórios e recursos do Fundeb, que financia a educação, para bancar o novo programa social.

O estrategista da TAG Investimentos, Dan Kawa, comenta que após a forte reação negativa, a expectativa é que parte da proposta – que inclui um “fura teto” e uma “pedalada fiscal” – seja abandonada. “Fica clara a incapacidade deste governo e do Congresso em avançar com medidas de ajuste fiscal focadas na contenção de custos.” A esperança, observa Kawa, é que o ajuste fiscal prossiga, mas os sinais são preocupantes. Nesse ambiente, ele espera muita volatilidade nos mercados até o final do ano.

A piora do cenário fiscal já levou o banco americano Citi a reduzir a projeção de crescimento do Brasil em 2021 de 3,5% para 3%. O banco vê o real 15% mais depreciado do que os fundamentos sugerem e o governo rompendo o teto no ano que vem em R$ 75 bilhões. Já o grupo financeiro suíço Julius Baer avalia que a credibilidade fiscal do Brasil sofre novo golpe com o anúncio do Renda Cidadã e prevê forte venda de ativos do Brasil se o teto de gastos, principal âncora fiscal do País, for abandonado.