SÃO PAULO (Reuters) – O dólar ainda fechou em queda frente ao real nesta terça-feira, mas distante das cotações mínimas do dia, quando operou na faixa de 4,62 reais, com operadores retomando compras da moeda na parte da tarde à medida que os mercados globais adotaram postura mais defensiva devido a receios inflacionários e de política monetária.

O dólar foi à máxima intradiária (de 4,6965 reais, alta de 0,11%) ainda nos primeiros negócios, em meio à ansiedade antes da divulgação de dados de inflação nos EUA. Os números foram publicados às 9h30 (de Brasília) e trouxeram alguns indicativos de inflação já no pico do ciclo, o que acabou derrubando o dólar no mundo. Logo depois, a moeda aqui caiu à mínima da sessão: 4,622 reais, queda de 1,48%.

Contudo, a demanda pelo ativo retornou, à medida que investidores se debruçavam sobre outras informações do índice de preços –que veio acima do esperado e bateu a maior leitura anual em cerca de quatro décadas.

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Adicionando confiança aos compradores de dólar, a diretora do Federal Reserve Lael Brainard afirmou que o banco central pode começar a diminuir seu balanço patrimonial em junho, o que foi lido como sinal de que o Fed seguirá em aperto monetário a despeito de riscos à economia.

Ao fim do pregão no mercado interbancário, o dólar caiu 0,32%, a 4,6763 reais na venda.

“A história de inflação e movimentos de política monetária é o que está movendo (os mercados)”, disse Cleber Alessie, gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM. Segundo ele, o fluxo financeiro ao Brasil pode já começar a sentir os efeitos do aperto das condições de liquidez no exterior, ainda que do lado comercial os números devam seguir fortes, já que os preços das commodities continuam elevados.

Na véspera, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertou que uma aceleração no ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos pode ter efeito sobre países emergentes e reverter fluxo de investimentos para essas nações, principalmente se a inflação continuar surpreendendo para cima.

“Está caro apostar contra o real, por causa do ‘carry’ (retorno). Mas há esses fatores (de cautela). Então acredito que o dólar deva ficar nesse intervalo entre 4,60 reais e 4,80 reais por um tempo”, disse Alessie. Na semana passada, o dólar oscilou entre 4,582 reais e 4,796 reais.

Apesar de não ter voltado a patamar abaixo de 4,60 reais, a moeda norte-americana ainda cai 16,10% em 2022, o que faz do real a divisa relevante com melhor desempenho no ano. E, segundo pesquisa do Bank of America, gestores na América Latina têm aumentado as apostas de que o dólar permanecerá abaixo de 5 reais.

Uma fatia de 68% dos consultados na sondagem calcula que a moeda norte-americana ficará abaixo de 4,80 reais até dezembro, conforme edição de abril da pesquisa, contra 23% em março. Cerca de 55% veem o dólar entre 4,50 reais e 4,80 reais, acima dos pouco mais de 20% da sondagem do mês passado.