Em uma sessão de liquidez reduzida, o dólar chacoalhou pela manhã, mas acabou se firmando em terreno negativo ao longo da tarde e encerrou o pregão em queda, refletindo em grande parte o enfraquecimento global da moeda americana. Operadores também notaram fluxo de entrada para ofertas de ações na B3 e alinhamento de posições diante do aumento das expectativas de uma elevação mais intensa e pronunciada da Selic.

O dólar até ensaiou uma alta nas primeiras horas de negócio e correu até a máxima de R$ 5,3101, na esteira de certa aversão externa ao risco provocada por medidas chinesas de regulação do setor de tecnologia e educação, mas perdeu fôlego assim que a moeda americana começou a ceder em relação ao euro e a divisas emergentes pares do real, como o peso mexicano.

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No início da tarde, o dólar à vista chegou a tocar na casa de R$ 5,15, descendo até a mínima de R$ 5,1527. No fim do dia, a moeda americana era negociada a R$ 5,1742%, recuo de 0,70%. Em julho, o dólar ainda acumula valorização de 4,04%.

A despeito da perda de fôlego do dólar nesta segunda-feira, analistas não veem espaço para uma rodada mais forte de apreciação do real nos próximos dias, que podem ser marcados por solavancos mais fortes no mercado de câmbio – por causa da agenda externa carregada e pela disputa em torno da formação da taxa do fim do mês, na sexta-feira.

Investidores vão acompanhar de perto o comunicado da reunião de política monetária do Federal Reserve (quarta-feira), e a divulgação do resultado do PIB americano no segundo trimestre (quinta-feira) para calibrar as apostas sobre eventual início da redução de compra de bônus (tapering) nos Estados Unidos ainda neste ano.

Para o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, o mercado está apreensivo em relação à postura do Fed em um momento no qual o pico de crescimento da economia americana parece ter ficado para trás, mas a inflação permanece pressionada. “Parece que o Fed quer apertar o discurso, mas existe o medo de o crescimento ser mais baixo. A expectativa é que o ‘tapering’ venha, grosso modo, na virada do ano”, diz Júnior, ressaltando que ainda tem a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE) de junho nos EUA na sexta-feira, dia 30, e na próxima semana, dia 6, do relatório de emprego nos EUA (payroll), o que pode mudar trazer muita volatilidade para o mercado de câmbio.

Para Júnior, enquanto o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes – seguir na casa de 92,5 pontos, com “risco de ir para 94 ou 95 pontos”, não é possível vislumbrar um dólar “abaixo de R$ 5,15”. “Existe muito pouco para o real ganhar quanto o DXY não vir abaixo de 91”, diz Júnior, para que a perspectiva de alta mais forte da Selic até desestimula a compra de dólares, mas ainda não autoriza apostas em queda mais forte da moeda americana em relação ao real.

Hoje, o Boletim Focus trouxe elevação da expectativa para a Selic no fim deste ano de 6,75% para 7%. Após a alta surpreendente de 0,72% do IPCA-15 de julho, divulgado na sexta-feira, aumentaram as apostas um aperto monetário maior e mais intenso, com alta da Selic em 1 ponto porcentual no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem (3 e 4 de agosto), para 5,25% ao ano.

Para Alexandre Netto, head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, a despeito de uma Selic mais elevada, existe um conjunto de riscos que apontam para uma tendência de depreciação do real no curto e médio prazo. “Existe dúvida até onde o Banco Central pode apertar a política monetária sem prejudicar tanto a atividade, que ainda está se recuperando”, diz Netto, que também chama a atenção para o risco político. “A eleição é o ano que vem, mas as conversas já começaram. Os dois candidatos principais, o presidente (Jair) Bolsonaro e o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), estão com uma postura populista, e o investidor estrangeiro não gosta disso”, acrescenta, lembrando que ainda pairam dúvidas sobre o desenlace da reforma do Imposto de Renda, o que assusta o mercado.

Segundo Netto, pode haver “movimentos pontuais de alívio” na taxa de câmbio como vistos hoje, por causa do exterior e da entrada de recursos para IPOs, mas não é possível imaginar o dólar sendo negociado abaixo de R$ 5 nas próximas semanas. “A perspectiva é de ver o dólar rodando numa faixa entre R$ 5,10 e R$ 5,20, e com muita volatilidade”, diz.