Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar à vista registrou leve baixa nesta quinta-feira, fechando longe das mínimas da sessão, com compras de fim de pregão estimuladas pelo ambiente mais negativo nos mercados externos em meio a incertezas sobre os próximos passos da política monetária nos Estados Unidos.

A moeda, porém, ainda terminou numa nova mínima em quase dois meses e chegou a se aproximar do suporte técnico de 5,50 reais, com o dólar no mundo ainda sob correção de baixa, ainda que em menor magnitude no fim da tarde.

O dólar à vista caiu 0,13%, a 5,5286 reais na venda, menor valor desde 17 de novembro do ano passado (5,5264 reais). Mais cedo, o declínio chegou a ser de 0,62%, para 5,5014 reais.

No mercado futuro da B3, em que os negócios com dólar futuro vão até 18h30 (de Brasília), a taxa do contrato de maior liquidez tinha estabilidade, após recuar 0,64% na mínima intradiária.

A desaceleração da queda do dólar no fim da tarde respondeu à deterioração de sinal nos mercados internacionais. As bolsas de valores de Nova York caíam até 2%, o dólar reduziu as perdas contra uma cesta de moedas, e as taxas de juros dos títulos de referência do Tesouro norte-americano desceram às mínimas do dia, denunciando o clima de aversão a risco.

Depois do depoimento do chefe do banco central norte-americano, Jerome Powell, na última terça, nesta quinta foi a vez de a postulante a vice-chair, Lael Brainard, defender no Senado dos EUA sua indicação. Ela se tornou a última e mais sênior autoridade do banco central a sinalizar que o Fed tem se preparado para começar a subir as taxas de juros em março.

Os mercados oscilaram após as falas de Brainard.

“O mundo onde o Fed pode devolver a economia dos EUA ao equilíbrio com pleno emprego e inflação modesta apenas levando as taxas de volta para 2% é coisa de conto de fadas, não do mundo real”, disse em nota Kit Juckes, estrategista macro do Société Générale.

“Embora seja assim que os mercados estejam olhando para isso, talvez os mercados de câmbio precisem prestar mais atenção aos rendimentos dos títulos do que às taxas de juros de curto prazo”, ponderou.

O rali recente nas taxas de títulos soberanos de países centrais serviu como elemento a restringir a liquidez, o que teria potencial de afetar perspectivas para ativos de mercados emergentes, como a moeda do Brasil.

O Credit Suisse disse estar “pessimista” com moedas emergentes de beta alto (mais sensíveis a mudanças bruscas no cenário global) e citou o real e o rand sul-africano como suas divisas preferidas para expressar essa visão neste trimestre.

E analistas citam ainda fatores internos como potencial fonte de reveses à taxa de câmbio brasileira.

“A pressão por gastos neste ano eleitoral será imensa. O maior risco local, no momento, é a nova onda da pandemia ser usada como argumento para uma nova rodada de gastos”, comentou Dan Kawa, diretor de investimentos e sócio da TAG Investimentos.

Ele fazia referência à informação de que o presidente Jair Bolsonaro editou decreto que concede poder à Casa Civil nas discussões Orçamentárias. Segundo disse uma fonte do governo à Reuters, o decreto pode facilitar o alinhamento entre acordos políticos sobre distribuição de verbas e a efetiva inclusão desses recursos nas contas do governo.

“O ano de 2022 começa com muitas incertezas, seja no cenário externo, onde vislumbramos o início de um crucial processo de aperto de política monetária nos EUA; seja no cenário interno, onde temos uma eleição presidencial e toda complexidade que isso envolve, em meio a uma forte desaceleração da economia”, disse nesta semana a Verde Asset em carta mensal referente ao fundo multimercado Verde FIC FIM, sob comando do famoso gestor Luis Stuhlberger.

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