Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar engatou a terceira alta consecutiva nesta quinta-feira, chegando a superar 5,25 reais durante o pregão, nos maiores níveis em um mês, impulsionado pela escalada da moeda no exterior a novos picos em 20 anos, movimento que não deu chance a um breve alívio mais cedo patrocinado pelo PIB brasileiro mais forte.

O dólar à vista fechou em alta de 0,73%, a 5,2386 reais na venda, maior valor desde 3 de agosto (5,2781 reais).

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Em três dias, a cotação acumulou ganho de 4,09%, o mais forte para o período desde 14 de junho (4,42%).

Ao longo da jornada, a moeda oscilou de 5,1464 reais (-1,04%) a 5,2581 reais (1,10%).

Lá fora, os ganhos do dólar eram generalizados. O índice da moeda frente a uma cesta de rivais de países ricos saltava 0,75% no fim da tarde, para os maiores níveis em 20 anos. O dólar também subia de forma ampla diante de divisas emergentes.

Novos lockdowns na China e mais dados nos EUA sugerindo espaço para o banco central norte-americano seguir elevando os juros deram o argumento de que operadores precisavam para correrem para o dólar.

“Caso os dados de atividade e emprego (nos EUA) continuem surpreendendo de maneira positiva, provavelmente o mercado precificará um nível de juros mais elevado, o que continuará impulsionando o dólar. Neste contexto, o dado de emprego a ser divulgado amanhã ganha mais importância para a trajetória do dólar no curto e médio prazos”, disse Gabriel Cunha, especialista de mercados internacionais do C6 Bank.

O governo dos EUA divulga números gerais de emprego na sexta-feira. A expectativa é de criação líquida de 300 mil vagas, abaixo dos 528 mil postos abertos em julho.

O rali do dólar do meio da manhã até o fechamento veio depois de um curto momento de queda da moeda, logo após a divulgação de dados melhores da economia brasileira no segundo trimestre, com instituições financeiras já revisando para cima suas projeções para o PIB.

Para Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, a resiliência da economia deve fazer do Brasil “cada vez mais” uma ótima opção para o capital estrangeiro. Mais fluxo poderia limitar tendências de depreciação do real.

“A melhora das condições econômicas do Brasil estabelecidas pelo cenário de recuo da inflação, atividade econômica aquecida e valuation atrativo favorece os ativos de risco, o que explica a forte entrada de capital estrangeiro em agosto em busca de melhores oportunidades globais”, disse.

Ele destacou ainda a queda dos juros futuros em toda a curva nesta quinta-feira, o que em sua avaliação corrobora a tese do fim do ciclo de aperto monetário dentro do atual cenário de inflação, o que deve favorecer a tomada de risco.

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