Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar sofreu a maior queda em quase duas semanas nesta quarta-feira, voltando a ficar abaixo de 5,10 reais, com operadores vendendo a moeda depois de forte volatilidade logo após a primeira alta de juros nos Estados Unidos em três anos.

As negociações aqui refletiram no fim do dia o rali de risco que impulsionou Wall Street e derrubou o dólar frente a uma cesta de moedas de países ricos e emergentes.

As declarações do líder do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, que falou em coletiva de imprensa após a decisão, geraram leituras diversas entre investidores, com teses de que Powell soou “dovish” (inclinado a menor aperto das condições monetárias) ao falar de riscos à economia, mas “hawkish” (duro com a inflação) ao indicar altas em todas as reuniões do Fomc neste ano.

Um entendimento corrente é de que o Fed estaria contando com uma desaceleração da atividade para esfriar a alta dos preços –com o menor ritmo da economia causado pelas altas sequenciais de juros. Isso teria causado a reversão das curvas de juros nos EUA entre cinco e dez anos, um clássico sinal de recessão, o que, por tabela, prenunciaria cortes de taxa.

Esse raciocínio teria derrubado o dólar após uma alta inicial e, ao mesmo tempo, impulsionado Wall Street.

Aqui, a moeda à vista acabou fechando em queda de 1,29%, a 5,0917 reais, após oscilar entre 5,0912 reais (-1,30%) e 5,1574 reais (-0,02%).

Lá fora, o índice do dólar contra uma cesta de divisas fortes chegou a cair quase 0,7% após subir 0,1% na máxima.

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Antes de quase zerar as perdas na reação imediata à decisão do Fed, o dólar já havia operado em queda ante o real mais cedo, com investidores colocando nos preços sinais de progresso nas negociações de paz entre Ucrânia e Rússia e promessa da China de ofertar mais estímulos para a economia e manter os mercados estáveis.

O foco agora se volta para a decisão de juros no Brasil. O colegiado do Banco Central anunciará o desfecho de dois dias de reuniões a partir de 18h30 (de Brasília). O mercado sustenta aposta majoritária de alta de 1 ponto percentual na Selic, para 11,75% ao ano.

“(A decisão do Fed) joga pressão sobre o Banco Central do Brasil”, disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, que vê alta de 125 pontos-base. “Se o BCB não for firme podemos ter ainda maiores ruídos na curva de juros brasileira”, completou.

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