O dólar chegou a operar abaixo dos R$ 4,60 na terça-feira (5) e, apesar da leve alta de 1% no decorrer do dia, a moeda norte-americana ainda está muito longe do cenário de pânico que tomou os investidores no início da pandemia da Covid-19, em maio de 2020, quando o câmbio bateu recorde nominal de R$ 5,90. Desde então, o recuo chegou a 21,9% – sendo que em 2022 a moeda acumula queda de 11%.

Com uma das maiores taxas de juros do mundo (era 2% ao ano em janeiro de 2021 e está em 11,75% agora), além de um mercado de commodities aquecido no mundo com a crise na guerra entre Rússia e Ucrânia, o Brasil virou o ponto de lucro dos investidores estrangeiros.

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Mas e para você, brasileiro, que pensa em comprar ou vender dólar, a situação atual indica o que? É melhor aportar a moeda norte-americana, pensando em uma futura desvalorização do Real, ou vender uma parte do seu portfólio dolarizado pensando em um cenário de quedas nos próximos meses?

Compre aos poucos e faça um preço médio

Variação do dólar nos últimos 6 meses
Variação do dólar nos últimos 6 meses (Crédito:TradingView)

Estrategista-chefe da Diagrama Investimentos, Ricardo Leite observa que o câmbio é o ativo mais difícil de se prever cotação. Sendo assim, ele não acredita que comprar dólar, independente do cenário, seja uma estratégia arriscada.

“Para o investidor que busca segurança, aportes rotineiros fazem total sentido independentemente do momento da economia global. Dado o atual cenário político, fiscal e macroeconômico, podemos concluir que comprar dólar é sempre uma opção”, disse ele.

Diretor de câmbio na Ourominas, Mauriciano Cavalcante segue a mesma ideia de montar um estoque de dólar com calma para se proteger de possíveis reversões no cenário internacional.

“O investidor deve aproveitar essa queda. Conforme for entrando reservas, ir comprando aos poucos e fazer uma média lá na frente para não ter surpresas desagradáveis. De repente pode surgir algum agravamento na guerra e fazer com que o dólar reverta essa situação em relação ao Real”, disse Cavalcante.

Composição eleitoral no radar do câmbio

Dois especialistas acreditam que, à medida que as eleições brasileiras começarem a tomar mais corpo no noticiário, elas podem impactar na taxa do câmbio norte-americano.

Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, observa que o preço das commodities pode seguir em alta e criar um impasse inflacionário, fazendo com que o Banco Central brasileiro siga ajustando a política de juros para cima e o Real se mantenha fortalecido. As eleições, no entanto, podem ampliar a exposição do Real no mercado internacional.

“O mais recomendável é que o investidor faça compras periódicas, todo mês, de forma a diluir o seu risco”, disse Lima.

Já Marcos Weigt, da Travelex Bank, aponta que existe um chamado “custo de oportunidade”, análise que leva em conta a taxa de juros do País. Além disso, é preciso ter em mente que o espaço de recuo do dólar também pode não ser muito maior do que os atuais R$ 4,60, indicando que a cotação não vai ficar abaixo dessa barreira – nesta terça-feira (5), a XP Investimentos apontou que a cotação deve encerrar o ano em, no máximo, R$ 5.

“O principal ponto a se avaliar na hora de comprar dólar é o custo de oportunidade. Com a taxa de juros a 11,75% e, que deve subir para 12,75% em breve, como já sinalizou o Copom, temos esse custo a quase 12% ao ano. Por outro lado, com o dólar a R$ 4,60, sabemos que há pouco espaço para que esse preço caia ainda mais, isto porque as eleições começam a ganhar cada vez mais espaço no dia a dia do mercado a partir de abril. Então, o ideal para mitigar esses possíveis riscos é comprar dólar em partes, ao longo dos meses”, comentou o especialista.