Em queda desde o dia 21 de dezembro, quando bateu a casa dos R$ 5,74, o dólar virou uma opção de investimentos para quem pretende se proteger de um mercado que se recupera da pandemia da Covid-19, porém, escorrega nas incertezas da guerra na Ucrânia.

Nesta quinta-feira (25) a moeda norte-americana fechou o dia cotada a R$ 4,832, queda de 0,25%. No intraday, a cotação chegou a bater R$ 4,76, algo que não acontecia desde março de 2020, ou seja, no período pré-pandemia.

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O câmbio norte-americano abriu as negociações desta sexta-feira (25) em queda e às 15h20 chegou aos R$ 4,75, com variação negativa de 1,42%.

Série histórica do dólar desde 2020
Série histórica do dólar desde 2020 (Crédito:TradingView)

Neste ano a moeda já desvalorizou mais de 13%, isso após ficar 7,40% mais cara em 2021, quando ultrapassou a casa dos R$ 5,88, em março. Segundo a Travelex Confidence, uma das maiores casa de câmbio do mundo, a procura por dólar aumentou 24% entre os dias 24 de fevereiro e 14 de março, ante os primeiros 23 dias de fevereiro. A procura por Euro subiu 40%.

O momento é propício para a valorização do Real ante o dólar em função das commodities estarem fortalecidas no mercado internacional. Com o conflito na Ucrânia e a taxa de juros elevada no mercado doméstico para controlar a inflação, investidores estrangeiros estão aportando dinheiro no Brasil por encontrarem aqui uma forma de lucrar com este cenário.

Comprar dólar aos poucos ou aproveitar a queda e comprar de uma vez?

E com este ritmo de quedas você pode estar se perguntando se é o momento de comprar dólar ou aguardar novas quedas, certo? Bom, analistas acreditam que o certo é você criar uma estratégia em que consiga aproveitar esse ritmo de queda, porém se protegendo de uma guinada de alta nos próximos dias. Sendo assim, você deve comprar aos poucos, enquanto observa a resposta do mercado às crises dentro e fora do Brasil, e torna a compra menos arriscada.

Conhecida como “hedge cambial” (ou proteção cambial), a ideia é você montar um estoque de dólar enquanto a moeda vai se desvalorizando – ou seja, vai comprando ao longo dos dias de queda –, e aproveitar pequenos lucros conforme a quantia vai retomando um cenário de altas no futuro. Desta forma, você consegue driblar a volatilidade do mercado e evita a perda de dinheiro.

“Para o investidor pessoa física, o mais recomendável é que não tente acertar exatamente o melhor momento de comprar ou de vender dólar, realizando aportes [compras] periódicos e rotineiros. Dessa forma, ele dilui seu preço médio e diminui as chances de pegar uma cotação muito elevada”, disse Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake.

Gian Montebro, assessor de investimentos na iHUB Investimentos, avisa que é preciso cautela para não sair comprando dólar apenas olhando para o cenário do momento. Isso porque o ciclo de alta dos juros brasileiro pode estar no fim e o Federal Reserve (FED), Banco Central dos Estados Unidos, apenas iniciou movimento de contenção da inflação com ajustes na política monetária. Com o mercado norte-americano mais atrativo, os investidores tendem a migrar para lá, o Real volta a desvalorizar e o dólar sobe.

“Nos próximos dias podemos ver a moeda manter o seu ritmo de queda, talvez sendo cotada perto dos R$ 4,70 ou até abaixo, mas cautela com a empolgação é fundamental, visto que temos as eleições se aproximando e a fala de Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central], sinalizando um possível fim do ciclo de alta de juros por aqui, com os EUA seguindo o caminho inverso”, disse Montebro.

Em sua análise, o assessor da iHUB explica que o movimento do mercado internacional é o básico do “carry trade”, cenário em que o investidor se aproveita da diferença entre as taxas de juros, tomando empréstimo em um país com juros baixos, fazendo o câmbio (ou seja, trocando dólar por Real), e investindo em outro lugar que pague juros mais altos. Neste panorama, o Brasil se torna atrativo por apresentar uma das taxas de juros mais altas no mundo.

Análise semelhante é a de Marcos Weigt, head da Tesouraria do Tavelex, que aposta mais em uma retomada de alta do que de queda.

“Para a empresa, digo que é momento de fazer hedge para não sofrer qualquer risco em meio a volatilidade do mercado. Para a pessoa que quer viajar, se essa viagem for daqui há um ano, o ideal é que se compre em partes, olhando sempre para a taxa de juros que também impacta nessa compra. ”, disse ele em nota.