A valorização do dólar ante o real é atualmente a única fonte de pressão sobre a inflação no atacado, mas não deve chegar ao consumidor, por conta da demanda deprimida e expectativa de retração da atividade econômica, explicou o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 1,13% em abril, após ter aumentado 0,64% em março, informou a FGV. No entanto, a expectativa é que as próximas leituras dos IGPs mostrem desaceleração, previu Braz.

“Boa parte desse efeito de desvalorização cambial já foi captado, absorvido pelo atacado, com pouca chance de ser repassado no curto prazo para o consumidor, por causa da demanda”, disse o economista do Ibre/FGV.

Entre os componentes do IGP-10, o Índice Preços ao Produtor Amplo (IPA-10), que mede a inflação no atacado, subiu 1,52% em abril, ante uma elevação de 0,92% em março.

O avanço deste mês foi puxado pelo encarecimento das matérias-primas brutas, especialmente soja e minério de ferro, cotados em dólar. Braz calcula que o real teve uma desvalorização de aproximadamente 14% ante o dólar no período de coleta do indicador de inflação, que se estendeu de 11 de março a 10 de abril.

“Os preços (da soja e do minério) no mercado internacional não se alteraram tanto no período. Quem produz e depende de matéria-prima cotada em dólar faz hedge, faz uma proteção. Esses segmentos com essas proteções acabam não contaminando a estrutura produtiva e não repassando isso (oscilações cambiais) para frente”, lembrou Braz.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), que mede a inflação no varejo, teve alta de 0,33% em abril, depois da queda de 0,03% em março. A aceleração foi exclusivamente do aumento de preços dos alimentos, por conta de um choque de demanda decorrente das medidas de isolamento contra a pandemia do novo coronavírus.

“Como houve essa mudança de hábito das famílias, houve uma corrida ao supermercado para abastecer a despensa para fazer todas as refeições em casa, o que antes não acontecia. A partir desse novo patamar, os preços de alimentos não vão subir tanto mais. Outros grupos do IPC também não devem aumentar por causa da demanda. Ninguém vai comprar bens duráveis em casa, os serviços devem ficar estáveis, não estão funcionando, as tarifas públicas estão congeladas. A gasolina está caindo, acompanhando a tendência internacional. Fora a alimentação, não existem outras fontes de pressão no IPC, nem na leitura de abril nem nas próximas leituras”, enumerou Braz.

Ainda no IGP-10, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-10), que mede os preços da construção civil, teve alta de 0,29% em abril, depois de um avanço de 0,26% em março.