O executivo Cesar Ades, 61, se viu, há dois anos, diante de uma grande oportunidade e um enorme desafio. Ades era sócio do banco Rendimento junto com a fabricante de produtos eletrônicos CCE. No início de 2001, a indústria decidiu se desfazer da instituição financeira, até então um negócio modesto, especializado em crédito e em cuidar do caixa da matriz. Ades comprou o banco e, sem a conta da CCE, precisou buscar uma nova estratégia. Chamou dois amigos para sócios, Abramo e Edwin Douek, e, juntos, bolaram um plano. Decidiram se especializar na atividade financeira mais elementar, como se voltassem ao tempo dos banqueiros-mercadores das feiras medievais da Europa, que dominavam o mercado de câmbio. Ades e os sócios resolveram se dedicar à compra e venda de moedas. Do won (Coréia do Sul) ao dólar neozelandês, o Rendimento negocia dinheiro de doze países. O banco tem até um sistema de entrega a domicílio de shekels, libras ou euros. Mas seu grande trunfo são, claro, as verdinhas. Em dois anos, o Rendimento se tornou o terceiro maior negociador de dólar turismo do País, atrás apenas do Bradesco e do Banco do Brasil. ?Existia um vácuo no mercado e nós ocupamos?, diz Ades.

Quase todas as operações são fechadas por meio da corretora de câmbio que pertence ao banco, a Cotação. A Cotação existe há 15 anos, mas foi comprada no ano passado pelo Rendimento para executar a estratégia preparada por Ades e pelos irmãos Douek. É uma espécie de varejista do câmbio. Outras corretoras se especializaram em fechar grandes negócios no dólar comercial ? usado nas exportações e importações e também nas aplicações e especulações dos bancos. Já a Cotação cuida do dinheiro miúdo de agências de turismo e de quem viaja para o exterior. São mais de 80 mil operações por ano. Sem agências, realiza a maioria de seus negócios por telefone e internet. Sua frota de carros roda 2,5 mil quilômetros por dia para entregar dinheiro na casa dos compradores de moedas, mesmo que não sejam clientes do banco. ?Somos especializados e, por isso, podemos oferecer um atendimento diferenciado?, diz Nelson Gasparian, diretor de operações da Cotação. Os turistas gostaram tanto do serviço que transformaram o Rendimento/Cotação no maior vendedor de cheques de viagem da American Express no Brasil. ?O Rendimento ocupou um espaço que era desprezado pela maioria dos bancos de varejo?, diz Guilherme Castilho, analista da ABM.

Embora ainda seja pequeno, com patrimônio de menos de R$ 50 milhões, o banco é bastante rentável. Em 2002, o Rendimento lucrou R$ 18,8 milhões. Com dinheiro em caixa, os três sócios não só comemoram a estratégia que adotaram há dois anos, como resolveram dobrar a aposta. Vão lançar filiais da corretora no Rio de Janeiro e São José dos Campos, além de mais um escritório em São Paulo. ?Estudamos inclusive comprar outras instituições?, afirma Abramo Douek, diretor-superintendente do Rendimento. Além disso, o banco aproveitou a boa onda e acaba de lançar um novo produto para os turistas. Trata-se de um cartão de viagem internacional, diferente dos produtos tradicionais. Funciona como um cartão de débito em dólares. Ou seja, compra-se as verdinhas no Brasil, o banco registra um crédito no cartão e paga-se contas no exterior como se fosse à vista. ?É possível ainda fazer saques?, diz Marcelo Melsohn, diretor-financeiro da Cotação. Não é preciso pagar taxa de anuidade nem torcer para que o dólar não suba até o vencimento da fatura, como nos cartões de crédito tradicionais. ?Essa especialização se provou um bom negócio. Vamos investir cada vez mais no mercado de moedas?, diz Douek, o mais novo banqueiro-mercador do País.