A cotação do dólar no Brasil caiu nos últimos dias para o menor nível em cinco meses, devido aos aumentos da taxa de juros referencial e dos preços das commodities, embora os analistas prevejam a reversão da tendência neste ano eleitoral.

A moeda americana está sendo negociada atualmente em torno de 5,2 reais e entrou em sua sexta semana de queda, com perdas de 7,6%.

Este é o nível mais baixo desde 6 de setembro, quando atingiu R$ 5,17, segundo o Banco Central do Brasil (BCB).

De acordo com a empresa de informações financeiras Economatica, o dólar se desvalorizou no Brasil mais do que em qualquer outro país até agora este ano, seguido por Chile (-5,42%) e Peru (-5,41%).

Alívio externo e balanços no Brasil estimulam alta do Ibovespa

O atual fortalecimento do real é contrário à fraqueza que manteve durante boa parte do ano passado – com picos de até 5,8 reais – devido a turbulências políticas e preocupações com o cenário fiscal.

O nível do dólar foi, inclusive, um dos impulsionadores da inflação em 2021, que acumulou 10,06% e foi a mais alta desde 2015.

Os analistas atribuem a queda da moeda americana a duas causas principais: o nível da taxa de juros de referência, em 10,75% após a oitava alta consecutiva no início deste mês; e os altos preços mundiais das matérias-primas, das quais o Brasil é um dos principais produtores e exportadores.

Joelson Sampaio, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, destaca “a atratividade da taxa de juros do Brasil para o capital estrangeiro, uma das mais altas do mundo”.

E isso acontece em um momento em que “os Estados Unidos têm uma taxa de juros muito baixa, o que explica também uma busca por investimentos de países emergentes que tragam um maior retorno para esse capital”, acrescenta.

A Selic passou de 2% em março passado para os atuais 10,75%, sem ainda ter chegado ao fim do ciclo de alta devido à persistência da inflação.

No caso das ‘commodities’, como soja e milho, os preços seguem em alta devido à forte demanda global após as quedas durante a pandemia.

Isso também explica o bom desempenho das exportações brasileiras, fonte de divisas do país, que encerrou 2021 com saldo comercial superavitário.

– Eleições e volatilidade –

No entanto, o cenário deve se complicar com a aproximação das eleições presidenciais de outubro, em que Jair Bolsonaro aspira à reeleição, devido à incerteza gerada pelos períodos eleitorais.

Além disso, o esperado aumento dos gastos públicos provavelmente causará maior volatilidade do real.

O mercado espera que o dólar feche o ano em 5,58 reais, segundo a última pesquisa Focus do BCB.

Uma análise do Bank of America indica que a trajetória do dólar em relação ao real “é declinar no curto prazo, entre 5,10 e 5,00”, para depois possivelmente subir “para um novo recorde”.

No front externo, a iminente alta das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos em março também pode afetar o real: uma alta torna esse mercado mais atraente, mais seguro do que os emergentes, onde a moeda se torna mais escassa e, portanto, valorizado.