Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar chegou a ameaçar a resistência de 4,80 reais nesta sexta-feira, mas o elevado patamar chamou vendas, e a moeda norte-americana acabou fechando em queda após três altas consecutivas, com operadores realizando lucros e repercutindo algum ajuste de baixa na divisa no mercado externo.

O dólar buscou as mínimas do dia já na reta final dos negócios, enquanto saltavam nas telas de notícias informações de fontes do governo sobre reajustes a servidores públicos.

O IPCA de março, que veio bem mais alto que o esperado, fortaleceu apostas de que o Banco Central terá de deixar os juros em patamares mais altos por mais tempo. Isso manteria o carrego positivo de deixar reais em carteira e, assim, jogaria a favor de uma queda do dólar.

O dólar à vista fechou em queda de 0,61%, a 4,7118 reais, depois de variar entre 4,796 reais (+1,17%) e 4,7009 reais (-0,84%).

O alívio veio após três pregões seguidos de ganhos, nos quais a cotação acumulou alta de 2,89%.

Apesar da trégua nesta sexta, a moeda ainda encerrou a alta com valorização acumulada de 0,96% –primeiro aumento em seis semanas e o mais forte desde a semana finda em 7 de janeiro de 2022 (+1,05%).

Outras divisas emergentes também perderam terreno frente ao dólar, enquanto a moeda norte-americana bateu máximas em quase dois anos contra rivais do mundo desenvolvido, amparada por crescentes expectativas de que o banco central dos EUA eleve os juros de forma mais rápida em suas próximas reuniões.

Com juros mais altos e ostentando o título de mercado mais seguro do mundo, os EUA, assim, atrairiam mais recursos, o que valorizaria o dólar.

Mas a moeda passou a perder força em todo o mundo do fim da manhã em diante, o que foi replicado no Brasil.

Em abril, o dólar reduziu a queda para 1,07%, amenizando a baixa no ano para ainda expressivos 15,46%.

Os cenários para o dólar com a moeda nos atuais patamares parecem mais difusos.

O Itaú Unibanco passou a ver dólar de 5,25 reais ao fim de 2022, contra prognóstico anterior de 5,50 reais –ou seja, o banco melhorou o cenário relativo para o câmbio, mas segue vendo taxa acima da atual. “Seguimos esperando alguma depreciação em relação aos níveis atuais em virtude das incertezas externas e domésticas”, disse em relatório.

Em carta mensal divulgada nesta semana, a gestora de recursos Persevera se disse “com visão bastante positiva para a moeda brasileira”, detendo posições que variam taticamente entre 10% e 15% da carteira.

A casa citou redução da percepção de crise fiscal, diferencial de juros que “finalmente” parece ter começado a atrair de forma mais relevante fluxos para arbitragem com taxa de juros (“carry trade”) e os elevados preços de commodities, que podem resultar em um superávit comercial superior a 80 bilhões de dólares em 2022.

tagreuters.com2022binary_LYNXNPEI3711Y-BASEIMAGE