Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar caiu a uma mínima em uma semana nesta quinta-feira, na terceira queda seguida e ditada pela fraqueza da divisa norte-americana no mundo, diante do maior apetite global por risco.

O dólar à vista cedeu 0,75%, a 5,6276 reais na venda, menor patamar desde 8 de abril (5,5744 reais). A cotação passou o dia em baixa, oscilando de 5,6611 reais (-0,16%) a 5,5965 reais (-1,29%).

+ Dólar fecha em queda de 0,75%, a R$5,6276

No exterior, o dólar caía 0,5% e 1,6% ante divisas de risco assim como real, enquanto Wall Street cravou novos recordes e as commodities renovaram máximas em um mês.

Investidores lá fora seguem animados com as perspectivas para a economia dos Estados Unidos, em meio a estímulos e aceleração da vacinação, com o otimismo reforçado por dados acima do esperado.

Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas, avalia que o clima favorável a risco no exterior tem ajudado o real a se valorizar nos últimos dias, mas ressalva que a moeda brasileira ainda perde contra pares emergentes, sinal de que o câmbio segue com melhora limitada devido a problemas locais.

O real perde 7,3% ante o peso mexicano em 2021, enquanto cai 10,9% frente ao rand sul-africano e recua até mesmo contra a lira turca (-0,4%), a moeda mais volátil entre as principais dos mercados emergentes.

“Acho que, no ponto atual, se o Brasil fizer o dever de casa, o real ainda fica meio de lado”, disse Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas. Por “dever de casa” Chermont considera evitar mais gastos extra-teto e tentar convencer investidores de que 2022 não verá trapalhadas no Orçamento.

A máxima e a mínima do dólar nesta sessão foram marcadas ainda pela manhã. À tarde, a cotação estabilizou a queda e pouco reagiu à divulgação da projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviado pelo governo ao Congresso, que prevê déficit primário de 170,474 bilhões de reais para o governo central em 2022.

O mercado ainda está às voltas com o impasse do Orçamento de 2022, com investidores recebendo diariamente informações sobre novas propostas discutidas no governo para resolver o imbróglio –as quais até aqui têm desagradado a comunidade financeira.

Analistas e o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconhecem o peso da preocupação fiscal nos preços do dólar, que nos atuais patamares faz do real a moeda mais barata no mundo, segundo o Deutsche Bank.

“No curto prazo, o principal risco a ser monitorado são as despesas fora do teto de gastos em medidas para a Covid-19”, disseram em nota Mansueto Almeida e Fabio Serrano, do BTG Pactual.

“A médio prazo, um ponto central em nossas simulações é o cumprimento do teto de gastos. Os eventos recentes mostraram explicitamente a existência de pressões políticas para encontrar formas de contornar o instrumento, o que pode piorar rapidamente a trajetória do ajuste fiscal.”

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