SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em queda ante o real nesta terça-feira, indo a mínimas desde o início de agosto, mês em que acumulou baixa moderada após semanas de intensa volatilidade ditada sobretudo por problemas político-fiscais domésticos.

Nesta terça, a fraqueza do dólar no exterior se estendeu às operações locais, sobretudo pela manhã e em meio a ampla expectativa por dados do mercado de trabalho dos EUA ao fim da semana. À tarde, o mercado deixou as mínimas intradiárias após a definição da Ptax de fim de mês, por volta de 13h.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de contratos futuros e outros derivativos. A pressão antes da definição da Ptax foi de venda conforme operadores buscavam direcionar a taxa para um patamar mais conveniente a suas posições.

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Passada essa “janela”, o mercado ficou “livre” para seguir o tom mais conservador nas praças externas, após dados mais fracos nos EUA e na China.

O dólar à vista caiu 0,32%, a 5,1724 reais na venda, longe da mínima do dia, de 5,11585 reais, quando caiu 1,41%. Na máxima, alcançada ainda pela manhã, a cotação foi a 5,1981 reais, alta de 0,17%.

Em agosto, a cotação acabou acumulando queda de 0,69%, depois de chegar a subir 4,13% até o dia 19, quando fechou acima de 5,42 reais.

Até os 19 primeiros dias prevaleceram a escalada de incertezas doméstica sobre as intenções do governo sobre as contas públicas e dúvidas acerca da política monetária dos EUA.

A partir de meados do mês falas mais explícitas dos líderes do Congresso sobre a defesa do teto de gastos e a possibilidade de uma solução para a conta de quase 90 bilhões de reais em precatórios para o ano que vem ajudaram a acalmar os nervos dos agentes financeiros em relação à austeridade fiscal.

Assim, em 20 de agosto o dólar começou a fazer o caminho inverso e passou a cair. A “queima” de prêmio de risco acelerou no fim da semana passada, quando o chefe do banco central dos EUA deixou em aberto o momento de corte de estímulos ao mesmo tempo que minimizou riscos de alta de juros.

Dados da B3 mostraram que desde 25 de agosto –quando começaram as rolagens de contratos de dólar futuro na B3–, estrangeiros e fundos de investimentos venderam quantia somada de 2,6 bilhões de dólares, o que ajuda a explicar parte da queda do dólar no período.

Como resultado, a volatilidade implícita nas opções de dólar/real de três meses–uma medida da percepção de instabilidade da taxa de câmbio– já opera perto de mínimas em dois meses, enquanto o risco-país está nas mínimas em torno de um mês. Em meados de agosto, essas medidas foram a máximas desde abril e maio, respectivamente.

“Seguimos posicionados em real. Mesmo que não na mesma magnitude do começo do mês, mantemos um pé otimista com a moeda”, disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital.

“Não acreditamos num andamento rápido de reformas –estamos no segundo semestre, tem eleições ano que vem…–, mas se a cena política não atrapalhar já ajuda”, completou.

Guilherme Prado, operador de câmbio na Western Union Brasil, vê a partir de agora os Três Poderes em maior harmonia até o fim do ano, o que poderia ajudar na valorização do real, que, porém, ainda sofreria com riscos fiscais.

Um fator a dar suporte ao câmbio seria o juro mais alto, segundo Prado, que poderia levar o dólar para mais próximo de 5 reais. “Obviamente, pode ir um pouco além disso e furar esse patamar… mas acredito que o mercado logo corrija para cima uma cotação abaixo de 5 reais”, ressalvou.

Em 2021, o dólar se desvaloriza 0,37% ante o real.