Após flertar com o rompimento do piso de R$ 5,10 no início da tarde, quando registrou mínima a R$ 5,1012, o dólar à vista reduziu o ritmo de queda nas últimas horas do pregão, em meio ao avanço da moeda americana no exterior, e encerrou a sessão desta quarta-feira, 8, cotado a R$ 5,1401, em baixa de 1,02%. Com as perdas de hoje, a divisa agora acumula desvalorização de 1,62% nos seis primeiros pregões de março, após alta de 2,92% em fevereiro.

A apreciação do real se deu em um dia marcado por forte apetite ao risco no mercado doméstico, em razão do otimismo com a divulgação iminente da nova proposta de arcabouço fiscal e da ausência de novas investidas do presidente Lula contra o Banco Central. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse à tarde que já recebeu o texto da nova regra fiscal e que se reúne amanhã com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para tratar da proposta, que deve ser apresentada ao Congresso até o fim do mês.

Há quem aponte também o efeito benéfico do fato de Haddad ter dito esta semana que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá papel ativo na escolha do substituto do diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra – um sinal de que o presidente Lula teria recuado da intenção de bancar um nome para “mudar a cara” do Comitê de Política Monetária (Copom).

Se ontem o real foi a divisa que menos sofreu com a escalada global do dólar motivada por discurso duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, hoje a moeda brasileira liderou com folga os ganhos entre seus pares. Lá fora, o dólar subiu na comparação com euro, iene e a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, com peso mexicano e chileno, mais ligados ao real, figurando entre as exceções.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o real estava mais desvalorizado que seus pares frente ao dólar, em razão, sobretudo, da aversão ao risco com as incertezas na parte fiscal e o “falatório do pessoal do governo” em relação ao Banco Central.

“O real sofreu menos que outras moedas nos últimos dias e hoje o dólar cai aqui em função da expectativa da nova regra fiscal, que também fez os juros futuros curtos recuarem bastante, já refletindo possibilidade de corte da Selic a partir de maio”, afirma Weigt, ressaltando que, mesmo assim, o Brasil vai apresentar um juro real ainda elevado na comparação com os Estados Unidos. “E essa perspectiva de melhora para emergentes com a reabertura da China também é um motivo para o real se valorizar.”

Powell, que ontem falou no Senado, hoje abrandou um pouco o tom na Câmara dos Representantes dos EUA, ressaltando que a magnitude de alta de juros neste mês ainda não foi definida e depende de indicadores correntes, incluindo dados divulgados hoje. Pela manhã, o relatório ADP de emprego privado mostrou criação de 242 mil vagas em fevereiro, acima do esperado (205 mil). No começo da tarde, relatório Jolts revelou que a abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos caiu a 10,8 milhões em janeiro.

Ferramenta da CME mostra que as chances de elevação da taxa básica americana em 50 pontos-base no próximo dia 22, após alta de 25 pontos-base em fevereiro, superaram 70% hoje após a divulgação dos dados do ADP. À tarde, o Livro Bege, divulgado pelo Fed, mostrou que o mercado de trabalho segue sólido e que as pressões inflacionárias permanecem generalizadas A grande expectativa agora é pela divulgação, na sexta-feira, 10, do relatório de emprego (payroll) nos EUA em fevereiro.