Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançava contra o real na manhã desta quinta-feira, em curso de encerrar junho –período marcado por temores globais de recessão e incertezas fiscais domésticas– com sua maior valorização mensal desde o início da pandemia de Covid-19, resultado que também encaminhava a moeda para forte ganho trimestral.

Às 10:08 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,23%, a 5,2547 reais na venda, em sessão deve apresentar instabilidade devido à formação da Ptax de fim de mês e trimestre, segundo especialistas.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.

Na B3, às 10:08 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,21%, a 5,2515 reais.

Com o desempenho desta quinta-feira, o dólar spot ficava prestes a registar salto de 8,9% apenas em junho, o que marcaria seu melhor mês desde março de 2020 (+15,92%), quando os mercados globais sentiram o choque inicial da pandemia de Covid-19.

O grande foco dos mercados internacionais neste mês foi a política monetária e seu efeito na atividade das principais economias, conforme os principais bancos centrais do mundo adotam aumentos agressivos de juros para combater a inflação.

Na véspera, autoridades importantes, como o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçaram seu compromisso com o controle da alta dos preços, mesmo que isso possa ter efeitos negativos sobre a economia.

“Tais afirmações acentuaram as preocupações de investidores com relação a uma forte desaceleração da economia mundial, e até, possivelmente, uma recessão, o que voltou a pesar sobre os mercados”, disse em nota Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. “Desta forma, bolsas e commodities iniciaram o dia no vermelho, o dólar ganha força e os juros (de países) desenvolvidos operam em queda.”

O índice da moeda norte-americana contra uma cesta de seis rivais fortes avançava 0,3% nesta manhã, aproximando-se de seus maiores patamares em duas décadas.

Além de receios externos, temores fiscais domésticos também têm ditado o comportamento do mercado de câmbio local, em meio à tramitação no Congresso de uma PEC que estabelece um estado de emergência para ampliar auxílios sociais já existentes e criar um novo benefício destinado a transportadores autônomos, com custo total estimado em 38,75 bilhões de reais.

“O que o mercado teme… não é o impacto previsto, e sim entender o quanto ‘a porta ficou aberta’ para prorrogações ou até aumentos adicionais de gastos mais para frente, principalmente levando em conta que teremos eleições no fim do ano, fato que deve começar a reger os ânimos do mercado a partir do recesso parlamentar do meio deste ano”, disse Beyruti.

No segundo trimestre, o ganho acumulado da moeda norte-americana contra a brasileira é de pouco mais de 10%. Isso não compensa a baixa de 14,55% vista no período de janeiro a março, mas reduz as perdas do dólar no acumulado de 2022 para cerca de 6%. Mesmo distante das mínimas do ano, o dólar ainda caminha para fechar seu pior desempenho semestral frente ao real desde a primeira metade de 2016, quando caiu 18,61%.

Na véspera, o dólar spot caiu 1,44%, a 5,1911 reais na venda, desvalorização diária mais intensa desde o último dia 15 (-2,07%), ao menor patamar em uma semana.

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