Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar voltou a registrar firme alta contra o real, fechando nesta segunda-feira no maior patamar em mais de um mês, mas depois de bater 4,95 reais a moeda perdeu força e encerrou abaixo de 4,90 reais, tomando emprestado algum respiro dos mercados norte-americanos.

O dólar spot subiu 1,46%, a 4,8768 reais na venda. É o maior valor desde 22 de março passado (4,9153 reais).

Na máxima do pregão, a divisa foi a 4,95 reais, um salto de 2,99%.

O mercado até começou o dia vendendo dólares –na mínima, tocada ainda na primeira hora de negócios, a cotação caiu 0,17%, a 4,7985 reais. Mas do meio da manhã para a frente a moeda norte-americana começou a ganhar tração no exterior de forma concomitante à deterioração dos mercados na Europa e à queda das matérias-primas por temores relacionados à economia chinesa e a um banco central nos EUA mais agressivo na política monetária.

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À tarde, a recuperação de Wall Street –onde os três principais índices fecharam em alta depois de quedas de até 1,66%– acalmou o nervosismo dos compradores de dólares, e a moeda se afastou das máximas sem necessidade de nova intervenção do Banco Central no mercado de câmbio.

De toda forma, a pressão sobre as cotações chamou atenção. Na mínima do dia, a 4,95 por dólar, o real chegou a acumular perda de 6,69% desde o fechamento de quarta-feira passada e de 7,43% frente à mínima intradia de 5 de abril (4,582 reais).

Em dois pregões, o real amarga o pior desempenho entre seus principais pares emergentes. A alta do dólar acumulada no período é de 5,59%, a mais forte na mesma base de comparação desde 18 de maio de 2017 (+9,48%). Apenas naquela data, o dólar disparou 8,15%, reagindo à bomba no mundo político após delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, ter envolvido o então presidente da República Michel Temer.

E ruídos de natureza política voltaram a pesar sobre o mercado nos últimos dias. Investidores tiveram de lidar com novas manchetes sobre chances de aumento de gastos com o Auxílio Brasil, num contexto em que investidores já questionam as políticas econômicas a serem adotadas pelo governo que tomar posse em 2023.

Paralelo a isso, a crise entre os Poderes voltou a ocupar os holofotes após o presidente Jair Bolsonaro anunciar na quinta-feira passada decreto concedendo perdão ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por crimes de coação no curso do processo e atentado ao ​Estado Democrático de Direito.

“Mais preocupante, contudo, foi a tensão criada entre o Ministro Barroso do STF e as Forças Armadas sobre a lisura das urnas eletrônicas. Este assunto cria um clima de instabilidade forte para o pleito de outubro, e este tema é central para muitos investidores internacionais que veem na estabilidade democrática um ponto fundamental pra investimentos de longo prazo”, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Para o economista, é difícil determinar se de fato as recentes questões políticas estão “formando preço” no mercado, mas ignorar estes temas não parece mais uma opção. “Está evidente que o mercado está de olho já na eleição, e as rusgas trocadas por um ministro do Supremo e as Forças Armadas não é um sinal alvissareiro”, finalizou.

Mas os fundamentos do real, amparados por melhora dos termos de troca, diferencial de juros ainda elevado a favor do Brasil e um juro real positivo, ainda endossam a visão benigna de Gustavo Menezes, gestor macro da AZ Quest, em relação à taxa de câmbio. Para ele, o cenário externo tem preponderado na dinâmica da formação do preço do dólar.

“Essa volatilidade, claro, traz alguns alertas, mas a gente sempre oscila dentro de posição comprada em real”, disse. “Esses ruídos (político-institucionais e eleitorais) acabam influenciando, mas a preocupação seria de ruptura, e tão perto já das eleições não devem preocupar”, completou.

(Edição de Bernardo Caram)

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